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Ficha completa do filme

Comédia,Drama

Dona Violante Miranda (1960)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2006
Nota 1

Dercy Gonçalves nunca gostou muito de fazer cinema, mas agora em retrospecto é interessante ver como ela teve bons momentos registrados em filme, onde não podia improvisar muito nem dizer palavrões, duas de suas marcas registradas.

Mesmo assim, seus filmes resistiram bem ao teste do tempo, e esta é sua melhor atuação no cinema. Era um texto escrito especialmente para ela, pelo prestigiado dramaturgo Abílio Pereira de Almeida (1906-77), famoso por denunciar as mazelas e hipocrisias da sociedade paulistana. É justamente o que ele conseguiu fazer aqui neste filme onde também foi co-produtor e roteirista. Abílio foi o mais bem sucedido dramaturgo paulistano nos anos 50, mas também ator, diretor, roteirista e mesmo chefe de estúdio na Vera Cruz. É verdade que teve que fazer algumas adaptações, suavizar algumas situações por causa da censura da época. Mas o espírito da trama permaneceu.

Dercy faz uma milionária e benfeitora que, na verdade, fez seu dinheiro como cafetina, dona de um bordel de mulheres no centro de São Paulo, mais ou menos como a posterior "Tieta do Agreste", de Jorge Amado. Só que é uma mulher de bom coração e acaba criando como filha o bebê de uma das garotas que morreu (Célia Coutinho). Para isso, chega até a se casar com Elísio de Albuquerque e conta com a ajuda de Marina Freire. Quando a menina cresce e vai se casar com rapaz de família rica, o passado vem à tona, numa reviravolta meio "Imitação da Vida".

O filme é notável por seu excelente elenco, que se dá ao luxo de trazer Odete Lara, já estrela, fazendo um papel pequeno como amiga de Dercy, o jovem Mauro Mendonça muito maquiado como o velho coronel, o depois galã e ator de westerns na Itália Celso Faria, Fernando Balleroni, astro da TV Tupi e na vida real marido de Laura Cardoso, a manequim Giedre Valeiska, depois estrela de "O Quarto", de Rubem Biáfora.

Além da trilha musical feita por Aloysio de Oliveira, que foi do "Bando da Lua" de Carmen Miranda, e a direção de Fernando de Barros (1915-2002), que poucos anos depois abandonaria o cinema e se dedicaria ao jornalismo como especialista em moda masculina. Mas é Dercy que impressiona, sem fazer o seu tipo habitual, desta vez mais dramática, com cenas fortes e humanas.

Abílio Pereira de Almeida fez também com Fernando de Barros e Odete Lara Moral em Concordata, e com Dercy Sonhando com Milhões, uma adaptação de sua peça Em Moeda Corrente. Ele chegou a escrever outros textos para Dercy, que era sua amiga, mas sua vida chegou a uma conclusão triste quando se suicidou em 1977. O filme vem em cópia fraca mas tolerável.

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