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Ficha completa do filme

Drama

Através de um Espelho (1961)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2005
Nota 4

Apesar de ter ganho o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (por sinal, pelo segundo ano consecutivo) ficou inédito nos cinemas brasileiros, esta que é uma das obras-primas do genial diretor sueco, primeira parte de um trilogia que foi chamada de "O Silêncio de Deus" (todas saindo em DVD pela mesma Versátil).

Com apenas quatro atores (quase um filme de câmara, como um quarteto de cordas e a música que se usa é de Bach), um único lugar (uma ilha na costa sueca), ele faz uma meditação profunda sobre o sentido da existência humana.

Sempre usando a perfeita fotografia de Sven Snykvist, exemplar em enquadramentos e uso da luz, eles nos envolve aos poucos no drama daquela mulher que, desesperada, busca refúgio no irmão (com quem tem um encontro incestuoso) e nos pequenos ruídos, que a levam até um sótão onde por trás da porta de um armário pensa encontrar Deus (ou seria uma aranha que a devora? Ou será que sabe de algo que os normais desconhecem?).

O filme coloca a figura paterna do escritor (que pode ser ruim, mas é bem sucedido) também como de um homem frio e até cruel (que pensa em observar a filha e anotar os detalhes da doença para depois usar num livro), mas que pode fornecer a chave para encontrar aquele Deus a que todos buscam com tanto fervor: é o Amor, seria sua resposta. (Ele diz: "Deus existe no amor, qualquer tipo de amor, talvez Deus seja amor").

Sem fazer sermões, ou ser escandaloso, vemos quatro personagens desesperados em busca de uma resposta, vivendo na trágica ilusão humana de que se não existe Deus, é preciso criá-lo. Nada disso porém é óbvio, conforme o estilo sintético mas profundo do diretor.

Dentre os grandes do mestre, pode também incluir este bem vindo recém chegado. Foi também indicado ao Oscar de Melhor Roteiro e ganhou em Berlim, o prêmio católico da OCIC (hoje virou ecumênico).

O título deriva de uma passagem da Bíblia (Atos do Apóstolos aos Corinthios, XII 12) e foi rodado na ilha de Faro, que pertence ao cineasta. Só para constar, Bergman por vezes recusava o conceito de trilogia e dizia não ver muito entre os outros filmes ("Luz de Invento" e "O Silêncio", além deste).

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