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Ficha completa do filme

Drama

Léon Morin, o Padre (1961)

Resenha por Sérgio Alpendre

Sérgio Alpendre

Da redação 01/10/2010
Nota 4
Léon Morin, o Padre

Adaptado de um romance de Béatrix Beck, "Léon Morin, O Padre" é a história de Barny (Emmanuelle Riva, de "Hiroshima Mon Amour"), uma viúva francesa que não acredita em Deus, e trabalha como copidesque em uma pequena cidade durante a Segunda Guerra Mundial. Ela vê a cidade onde trabalha ser controlada primeiro por militares italianos, depois por alemães, e resolve batizar sua filha para que ela não seja perseguida pelo nazismo, envolvendo-se, por isso, com o padre Léon Morin (Jean Paul Belmondo, de "Acossado").

Curiosamente, mal sentimos a crueldade nazista, apesar dos comentários feitos pelos personagens, a não ser em uma ou outra cena - em uma delas pessoas são jogadas num caminhão, mostrado em um reflexo na vitrine de uma loja. A maior parte dos conflitos do filme vem dos desejos sexuais de Barny, primeiro por sua chefe, uma atraente judia chamada Sabine, depois, quando já convertida ao catolicismo, pelo padre, que por ser jovem teve de lidar com o assédio de outras mulheres da região, deixadas na solidão pelo contingente de soldados em batalha.

Alguns dos diálogos são tão cortantes que nos sentimos tentados a olhar novamente a ficha técnica para ver se é realmente um filme de 1961. Datam de uma época em que o cinema era adulto. Em determinado momento, Barny diz ao padre que se sacia sexualmente com um bastão, em outro, diz escancaradamente para uma amiga que sente uma forte atração sexual por Sabine, e suas questões e indiretas ao padre raramente fazem com que ele perca o controle, como na tocante cena em que ele responde a uma pergunta com uma machadada brusca num toco de madeira.

Essa rispidez tem o tom moldado por uma montagem ágil, de cortes que chocam, quando não são atenuados por um "fade". Não é à toa que os cineastas da Nouvelle Vague adoravam Melville. Seu estilo tem muito a ver com o cinema B americano (ele era considerado o mais americano dos cineastas franceses), e o tom de seus filmes geralmente prima por uma austeridade cara a Robert Bresson (de "Pickpocket"), filtrada pelo senso de espetáculo e narrativa de um Jacques Tourneur, de "O Gavião e a Flecha".

Interessante notar nos créditos a presença de Jean Rabier como câmera de Henri Decae, um dos maiores diretores de fotografia do cinema francês. Rabier desenvolveria, logo em seguida, uma elogiada carreira como diretor de fotografia, com Agnès Varda e Jacques Demy, e na metade dos anos 60 se tornaria o grande parceiro visual do recém falecido Claude Chabrol, com quem já havia trabalhado em 1961, no início da carreira de ambos.

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