55 Dias em Peking (1963)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2006

Nota 3

Foi conturbada a realização dessa superprodução de Samuel Bronston ("El Cid", "A Queda do Império Romano") filmada na Espanha com capital bloqueado pela lei de Remessas de Lucro. Houve problemas com falta de dinheiro, dificuldades para recrutar centenas de figurantes asiáticos por toda a Europa, falta de sintonia do elenco (causada em especial pelas bebedeiras de Ava Gardner, em papel para o qual Charlton Heston queria Jeanne Moureau). E por fim a briga do diretor Nicholas Ray (1911-79) com o produtor, que o levaria a abandonar o projeto (e a logo depois ter um grave ataque cardíaco), deixando a finalização para os não-creditados Andrew Morton, o diretor de segunda unidade, e o fotógrafo Guy Green.

Daí a confusão que resultou esta caprichada produção, que incluía uma faraônica reprodução em Madrid da Pequim de 1900 (com 60 acres de área!). Um filme frio e lento com um tom ainda colonialista. O filme narra a Revolta dos Boxers, quando nacionalistas chineses se insurgiram contra os estrangeiros de vários países (Inglaterra, França, Itália, Áustria, Alemanha, Rússia) que habitavam Pequim em legações diplomáticas, na verdade entrepostos destinados a tocar os negócios de interesse de cada povo, claro que explorando a China. Os rebeldes acabam tendo o apoio da Imperatriz (feita pela inglesa Flora Robson), instigada por um príncipe maquiavélico (o bailarino Helpmann), e lutam contra os europeus fortificados em suas propriedades.

Niven (1910-83) faz o idealista embaixador britânico que lidera os europeus, e Heston um major americano que acaba por coordenar a resistência. Ava tem um papel ruim e implausível da baronesa russa que se apaixona pelo americano. O filme até começa bem, criando expectativa, mas aos poucos vai perdendo ritmo, ficando banal e previsível, personagens centrais estereotipados e diálogos fracos. Foi o último filme do diretor Ray, que depois apenas participaria de dois pequenos projetos, um acadêmico e outro erótico, na década de 70. Ele faz aqui uma aparição como o ministro americano. A excelente trilha musical de Dimitri Tiomkin e a canção "So Little Time" foram indicadas ao Oscar. A cópia em widescreen é tirada de videolaser, com baixa qualidade de imagem.