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Ficha completa do filme

Suspense

Charada (1963)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2004
Nota 5

Cuidado, porque este filme clássico de suspense está em domínio público nos EUA. Esta cópia é de boa qualidade, extraída de boa matriz. É um dos melhores filmes do gênero, não feitos por Hitchcock. Quase todo rodado em locações em Paris, com Audrey chiquérrima com roupas do Givenchy e fazendo par ideal com Grant (a famosa trilha musical é de Henry Mancini).

Conhecido também por trazer astros hoje famosos como bandidos, em papéis menores. Mas a trama é realmente inteligente. Difícil sacar o final e o filme merece ser sempre revisto. Não se preocupe que não vou ser estraga-prazeres e revelar o desfecho ou as várias reviravoltas da trama. Apenas curiosidades.

Como a cena inicial, em que o trem era de verdade e a equipe tinha que ficar esperando o momento em que ele realmente passava. Os letreiros de apresentação são de Maurice Binder (foi vendo o trabalho dele nas fitas do diretor Stanley Donen que o chamaram para os filmes de James Bond, que o tornaram famoso).

Donen confessa que usou um truque, numa cena logo no começo, a mão que segura a pistola é de um homem para não revelar a piada. As cenas iniciais foram rodadas num hotel ainda inacabado em Mégeves, Alpes franceses. Audrey Hepburn, como sempre, vestia modelos de seu figurinista favorito Givenchy e como era seu hábito tinha três cópias de cada vestido. Cary Grant, embora não aparentasse, completou sessenta anos durante as filmagens e não queria mais correr atrás de mulheres, ao menos nas telas. Foi por isso que a princípio recusou o papel.

A fita quase foi feita com Natalie Wood e Warren Beatty. Mas o roteirista Peter Stone mudou o roteiro para satisfazê-lo. Outra exigência de Cary foi que ele gostava de ser sempre fotografado do mesmo lado, onde se considerava mais fotogênico. O autor Stone faz uma ponta na cena do elevador, só que dublado (a voz) pelo diretor Donen. Outros que foram dublados: o francês Jacques Marin (o chefe de polícia), que tinha um sotaque muito forte, foi feito por outro ator, Gregoire Aslan; o menino foi dublado por uma dubladora profissional.

A história foi escrita originalmente como roteiro, mas sete estúdios o recusaram, Donen só o descobriu quando foi adaptado para livro, mas fez questão que o autor ficasse no set o tempo todo das filmagens, uma coisa muito rara de acontecer. Stone considera sua seqüência favorita a do enterro, onde apresenta todos os personagens centrais de forma inusitada.

Na época, nenhum dos atores que fazem os vilões eram famosos, James Coburn, George Kennedy, um sujeito forte e grandão e Ned Glass, um ator que havia virado carpinteiro porque foi posto na lista negra do McCarthismo.

"Charada" foi totalmente rodado em Paris, exteriores e interiores, e até no mercado de Les Halles, que hoje não existe mais. Mas Donen confessa uma falha, neste passeio de Bateau Mouche, eles iluminaram apenas um dos lados do rio Sena, assim a projeção de fundo das cenas é sempre a da margem direita, tanto quando aparece Cary quanto Audrey. É aqui que se ouve a famosa música tema de Henry Mancini, que só teve letra de Johnny Mercer porque era obrigatório para poder concorrer ao Oscar, o que acabou acontecendo.

Donen também confirma a inspiração em Hitchcock, mas com uma diferença, nas fitas dele em geral era um homem que está em perigo e sendo perseguido, aqui é uma mulher e pela primeira vez Audrey fez um papel desse gênero. No filme também está o então pouco conhecido Walter Matthau e só numa cena eles tiveram que comer mais de quarenta sanduíches, mesmo porque o ator disse que ele era engraçado quando aparecia comendo e também correndo, porque parecia um pato quando corria.

Outra curiosidade: o filme foi rodado em plena crise dos mísseis de Cuba e um dia interromperam as filmagens achando que o mundo estava perto de uma guerra atômica. Cary Grant era canhoto, tinha mais de um metro e oitenta e era sempre dublado pela mesma pessoa nas cenas de ação, até mesmo num pulo para o balcão.

Simpático, mas complicado, ele recusou decorar um texto longo e expositivo e se você reparar bem na seqüência (quando ele entra na sala com os bandidos e a criança seqüestrada), ele está lendo o texto num quadro negro. A cena no chuveiro ele também não queria fazer, mas acabou concordando e se divertindo muito.

Foi muito mal refeito em 2002, por Jonathan Demme como "O Segredo de Charlie" ("The Truth About Charlie"), com elenco franco Mark Wahlberg, Tim Robbins e Thandie Newton.

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