A Noite do Iguana (1964)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2006

Nota 1

Geralmente este texto é considerado o último grande trabalho do autor Tennessee Williams, que foi montado originalmente no Brasil com Cacilda Becker e Walmor Chagas (e na Broadway com Bette Davis). Mas não está à altura de alguns anteriores, valendo mais pela direção inspirada de John Huston (1906-87) que se valeu da belíssima fotografia do mestre mexicano Gabriel Figueiroa (aquele que criou os claros escuros das fitas de Maria Felix).

Na verdade, o trio central de atores está em plena forma, com Burton em forma antes de virar um zumbi (por causa da bebida e dos escândalos com a mulher Elizabeth Taylor, que foi com ele nas locações de Puerto Vallarta, um local isolado na costa mexicana).

Deve ser a melhor interpretação da carreira de Ava, que foi Melhor Atriz no Festival de San Sebastian, ainda bela e madura, numa figura humana e compreensiva como a dona do hotel que se diverte com os dois empregados do lugar.

E das últimas de Deborah, como a etérea pintora que em pouco tempo iria se aposentar e morar na Suíça. O ponto fraco é a presença amadorística de Sue Lyon, que havia sido lançada como a "Lolita" de Kubrick, e que não teve fôlego para fazer carreira.

O problema é que toda a primeira parte é em cima dos dois (Ava só aparece aos 17 minutos, e Deborah aos 39). O título faz um paralelo pesado com a figura de uma iguana que foi capturada e posta para engordar, e com o pastor, que é amarrado para conseguir largar a bebida. Tudo se passa no espaço de um dia, uma noite e o dia seguinte.

O Making of retrospectivo "Huston´s Gamble" ("O Jogo de Huston") mostra como todo o elenco se deu bem, apesar de rodarem por dois meses e pouco isolados, e com a presença de Liz seguida pelos papparazzi. E que foi o próprio Williams que solucionou a cena de Burton com Lyon, fazendo ele pisar em vidro quebrado.

Também tem um documentário colorido da época ("In the Trail of the Iguana"), trailer e teaser, sem legendas. Originalmente da MGM, ganhou Oscar de Figurino e foi indicado como Atriz Coadjuvante (Grayson Hall, a acompanhante de Sue), Direção de Arte e Fotografia, sempre em preto e branco. Foi indicado a 6 Globos de Ouro, Bafta (Ava), Sindicato dos Diretores.

Puerto Vallarta hoje é atração turística ainda por causa deste filme. O filme deve ter sido o primeiro americano em que alguém (Ava) oferece maconha como cortesia (embora não tenha palavrões).