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Ficha completa do filme

Terror

As Sete Máscaras da Morte (1973)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2004
Nota 4

Vincent Price (1911-1993) depois de ter sido coadjuvante famoso na Fox ("Laura"; "A Canção de Bernadette") encontrou sua vocação nos filmes de terror, que lhe deram fama e notoriedade até o fim da vida. Foi casado (pela terceira vez) com a atriz Coral Browne (1913-91) que está aqui no elenco desta fita.

Diana Rigg, que faz sua filha, foi a esposa de James Bond em "007 à Serviço Secreto de sua Majestade" e se tornou grande personalidade do teatro inglês, onde ganhou o título de Dame. Como é possível deixar de incluir um filme com uma história dessas num livro de filmes cult? Só se me faltasse senso de humor, afinal é uma idéia brilhante (mas que espero que ninguém resolva copiá-la).

"As Sete Máscaras da Morte" é um descendente direto do sucesso de "O Abominável Dr. Phibes" e que só funciona mesmo pela existência de Vincent Price, que é capaz de dar um tom exato de sátira e paródia, que não deixa este filme basicamente de terror sem cair no excesso (ou seja, no fundo é uma comédia-sátira bem à moda inglesa). Infelizmente o diretor Douglas Hickocx ("O Sanguinário") não soube dar ao filme a mesma mistura de sátira, humor negro e citações "camp" de Dr. Phibes. Sua direção é pesada, impessoal, de alguém que cumpre um serviço sem se envolver.

Mas a história e o roteiro originais são tão bons que o filme sobrevive brilhantemente. Vincent Price é um ator canastrão, chamado Edward Lionheart (ou seja, Coração de Leão), especializado em textos "shakespeareanos", que, ao deixar de ganhar o prêmio dos críticos, resolve eliminá-los um a um. A idéia é genial. Qual o ator que não desejou matar um tipo que o criticou - a seu ver - injustamente. Só que Lionheart realiza seu desejo. Como em "Dr. Phibes", a princípio o espectador pensa que ele morreu, atirando-se pela janela, no Tâmisa. Mas, depois de meia hora, está quase tudo esclarecido. Por milagre, Lionheart sobreviveu e foi acolhido por um grupo de vagabundos. Assim realiza sua vingança.

Mas as coisas não podem ser simples. Cada um dos críticos será eliminado de acordo com um plano pré-estabelecido. Em "Dr. Phibes", eram as sete pragas do Egito. Aqui, segue-se a ordem do repertório dramático do ator. As peças de Shakespeare são sempre muito sangrentas e Lionheart e sua troupe vão representá-las ao vivo, com assassinatos reais.

O roteiro é tão inteligente que faz uso perfeito das frases de Shakespeare aplicadas ao momento. Lionheart começa interpretando "Júlio César", "Troilus e Cressilda", "Cymbeline". Assim o primeiro crítico é morto como Júlio César (esfaqueado no dia 15 de março - "Cuidado com os idos de março!") e todas as mortes sucessivas se encaixam perfeitamente à situação. É muito curiosa a reflexão que o filme provoca. No final, fica-se discutindo qual foi a morte mais engenhosa, mais bem preparada, sem ao menos se pensar na amoralidade da discussão. Mas é dentro da tradição do "grand-guignol" que o roteiro acaba com todos os críticos londrinos. E nesse ponto ele não poderia ser mais impiedoso.

Todos os críticos são pedantes, antipáticos, sacrificando qualquer valor em nome de uma boa piada. Fazer uma profissão da arte de falar mal dos outros, não deixa de ser, por si só, uma ironia! Fazendo os críticos, a produção colocou um elenco "all-star": Ian Hendry (o mais jovem e mais coerente), Dennis Price (o esnobe), Arthur Lowe, Robert Morley (o efeminado que anda sempre com seus dois cachorrinhos poodles), Jack Hawkins (em seu último filme, fazendo o marido ciumento de Diana Dors, aquela que outrora foi a Marilyn Monroe inglesa), Robert Coote, Hary Andrews (a cena mais cruel: "O Mercador de Veneza"), Michael Horden e Coral Browne (a ácida "Miss" Chole e depois mulher de Vincent Price na vida real).

A irreverência do filme está em toda parte. Desde os letreiros sobrepostos em filmes primitivos, mostrando representações de peças de Shakespeare no começo do século, até a escolha do elenco (todos os atores são conhecidos por suas representações de personagens "shakespeareanos"). Mas principalmente, na figura de Vincent Price, interpretando Lionheart.

O personagem é reconhecidamente um canastrão e Price não é somente um canastrão perfeito, como também costuma fazer conferências lendo textos de Shakespeare. Isto é, um papel que lhe cabe como uma luva. Além de ser extremamente maldoso, As Sete Máscaras da Morte tem momentos muito engraçados (como o do policial Erick Sykes sentindo a aproximação de um trem) e pode ser curtido em vários níveis. Só esperamos que não seja um mau exemplo para ninguém. Lançado também por outra distribuidora, em cópia de origem duvidosa, com o título Teatro da Morte. Boa cópia mantendo o colorido forte e kitsch original. Faz parte do Box "Coleção Vincent Price".

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