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Ficha completa do filme

Comédia,Drama

Nós que Nos Amávamos Tanto (1974)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 06/04/2005
Nota 5

Ex-roteirista e diretor de filmes para o ator Vitorio Gassman, o diretor Ettore Scola se revelou com "Ciùme à Italiana" (1970), decepcionou parcialmente com "Chicago Story" (1971), mas a partir deste filme continuou uma brilhante carreira que incluiu "Feios, Sujos e Malvados", "O Baile" e "O Jantar" - onde se reuniu novamente com Gassman, que logo depois faleceu.

Como no melhor cinema peninsular, o filme de Scola tem de tudo: humor, sátira social, crítica política, melodrama. Utiliza uma narrativa original e inteligente, mas ao mesmo tempo acessível. Ele sabe que para dizer coisas importantes não é preciso se fazer filmes herméticos e incompreensíveis. Rindo ou chorando, o público entende bem o drama dos protagonistas, compartilha do preço que o advogado tem que pagar em nome do sucesso e da fortuna, emociona-se com os problemas do dia-a-dia do operário dividindo o spaghetti ou ficando na fila para conseguir vaga na escola público.

São três amigos. Um deles se casou com uma mulher rica e feia, tornando-se um milionário infeliz. Outro, um atendente de hospital, tem a mesma falta de perspectiva de um operário comum. O terceiro, um intelectual engajado, perdeu na final de um programa de TV tipo "Show do Milhão" e nunca mais teve sorte. Quase 30 anos depois, eles se reencontram e descobrem que mudaram muito, perdendo algo no caminho.

A história dos três amigos e da mesma mulher que eles compartilharam em diferentes fases da vida é a base do filme. Por intermédio deles, conta-se também a história da sociedade italiana do pós-guerra e, de uma certa forma, a própria historia do cinema italiano. Narrado em flashback", o filme se desenvolve em preto-e-branco até o começo dos anos 60, justamente quando todo o cinema passou a ser feito a cores. Faz-se referências a "Servidão Humana", "Ladrões de Bicicletas", e mostra-se até uma cena dos bastidores da filmagem de "La Dolce Vita".

O filme também se inspira em uma peça de Eugene O´Neill na qual os personagens que assistem à encenação passam também a dizer seus pensamentos em voz alta, às vezes dialogando com a própria câmera, comentando a ação, enquanto em volta deles tudo se obscurece como num palco.

O elenco é quase perfeito. Vittorio Gassman mostra toda sua exuberância com um personagem semelhante ao de "Este Crime Chamado Justiça", que fez muito sucesso no Brasil. Nino Manfredi é o operário no estilo oposto, discreto, irônico, mestre do subentendido. Stefania Sandrelli é a mulher para os três homens, como de hábito bela e sensível.

Scola dedica este filme a Vittorio De Sica, uma homenagem que não poderia ser mais acertada. Seu filme é como dos melhores do mestre: humano, poético, alegre e profundo.

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