UOL Entretenimento Cinema
 

Ficha completa do filme

Drama

Touro Indomável (1980)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 06/12/2005
Nota 5

"Touro Indomável" foi indicado para oito Oscar, mas ganhou apenas o de melhor ator (Robert De Niro) e o de edição. O filme, para muitos a obra-prima de Martin Scorsese, foi eleito o melhor filme da década pelos críticos norte-americanos e é considerado o melhor filme de boxe já realizado até hoje.

Scorsese interrompeu as filmagens durante quatro meses para De Niro engordar quase 30 kg, uma mudança corporal então inédita no cinema, semelhante ao emagrecimento de Tom Hanks em "O Náufrago", 20 anos depois.

Aos 19 anos e então modelo, a atriz Cathy Moriarty estreou nesse filme, descoberta pelo ator Joe Pesci, que na época não fazia sucesso e dirigia um restaurante no Bronx (na filmagem de "Touro Indomável", ele teve duas costelas machucadas nas cenas de luta).

Foi ousado criar um protagonista tão desagradável e chauvinista quanto Jake La Motta, campeão de peso-médios nos anos 40 e 50. Ele é péssimo marido, mau caráter, trai o irmão e aliena todas as pessoas próximas. No ringue, luta como um touro enfurecido; sua decadência é tão drástica quanto merecida. O filme já começa com ele como apresentador de um night-club em 1964, para depois retratar sua ascensão, mas nunca chega a ser uma biografia convencional.

O roteiro de Paul Schrader ("Taxi Driver") tem o hábito de se fixar apenas em episódios violentos. Deixa no ar as motivações e justificativas dos personagens, tanto as de Jake quanto as de seus comparsas. Mas, como narrativa, a idéia mais interessante são os filmes caseiros propositalmente riscados (a única parte colorida do longa). Como filme de boxe, houve já muitos que denunciaram a ação de gângsteres (como "Trágica Farsa", inspirado na vida do lutador Primo Carnera, e "Marcado pela Sarjeta", sobre Rocky Graziano), mas "Touro Indomável" é certamente o mais bem filmado de todos.

As seqüências de lutas de boxe nunca são menos do que empolgantes. O branco e o preto têm um efeito extraordinário numa montagem rápida, envolvente e espetacularmente fotografados, especialmente na luta final com Sugar Ray Robinson. Só essas cenas já justificariam o filme.

Talvez se possa fazer uma leitura do personagem de La Motta nas suas repressões católicas da sexualidade, que acabam se desenvolvendo numa forma de sadomasoquismo e autodestruição. Mesmo assim, isso ficou mais na cabeça dos realizadores do que na tela.

O filme basicamente é um retrato de um sujeito repulsivo com quem o público não consegue se identificar. Ao contrário, o espectador observa com distância crítica o personagem de De Niro, cuja interpretação antológica e as magníficas cenas de luta até hoje ainda não foram suplantadas.

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema [resenha-data-cadastro]
Nota 5

Indicado para oito Oscars, ganhou apenas de Melhor Ator (o segundo para De Niro, o primeiro como protagonista) e Montagem. Mas acabou sendo votado o Melhor Filme da década pelos críticos americanos, para muitos a obra-prima de Scorsese. E outros o chamam de o melhor filme de boxe já realizado até hoje.

Scorsese parou as filmagens durante quatro meses para que De Niro pudesse engordar de 160 para 215 libras, quase 30 quilos, um fato inédito no cinema, só semelhante ao de Tom Hanks em "Náufrago" (2000), sendo que neste caso o filme ficou parado um ano e o ator teve que perder e não ganhar peso.

Cathy Moriarty, indicada ao Oscar como Coadjuvante, estreou neste filme e era uma modelo de 19 anos (com cara de Lana Turner jovem), descoberta por Joe Pesci. Ele na época não tinha qualquer sucesso e dirigia um restaurante no Bronx (na filmagem, ele teve duas costelas machucadas nas cenas de luta).

Mas há casos freqüentes em que a crítica não sabe fazer justiça a alguns filmes, que só tempos depois são reconhecidos como importantes. Ou até obra-primas. Foi o caso deste, que ganhou apenas dois Oscars (sendo que o de De Niro foi mais por causa do feito dele ter mudado fisicamente de forma tão óbvia).

Hoje, porém, ele tem status de obra-prima. Não parecia à primeira vista um filme assim tão especial. Foi ousado criar um protagonista tão desagradável e chauvinista quanto Jake La Motta, campeão de peso-médios nos anos 40 e 50. Ele é péssimo marido, mau caráter, atraiçoa o irmão e aliena todas as pessoas próximas. No ringue, luta como um touro enfurecido, sua decadência é tão drástica quanto merecida.

O filme já começa com ele como apresentador de um nightclub em 1964, para depois retratar sua ascensão, mas nunca chega a ser uma biografia convencional. O roteiro de Paul Schrader ("Taxi Driver") e parceiro tem o hábito de se fixar apenas em episódios violentos e gritados. Deixa no ar inclusive as motivações e justificativas do personagem, tanto de Jake quanto de seus comparsas.

Mas como narrativa, a idéia mais interessante são os filmes caseiros propositalmente riscados (a única parte da fita que é em cores). Como filme de boxe, houve já muitos que denunciaram a ação de gangsters ("Trágica Farsa", inspirado na vida do lutador Primo Carnera, "Marcado pela Sarjeta", sobre Rocky Graziano) mas Touro é certamente o mais bem filmado deles todos.

As seqüências de lutas de boxe nunca são menos do que empolgantes. O branco e preto tem um efeito extraordinário numa montagem rápida, envolvente e espetacularmente fotografado, especialmente na luta final com Sugar Ray Robinson. Só essas cenas já justificariam o filme.

Talvez se possa fazer uma leitura do personagem de La Motta nas suas repressões católicas da sexualidade, que acabam se desenvolvendo numa forma de sadomasoquismo e autodestruição. Mesmo assim, isso ficou mais na cabeça dos realizadores do que na tela.

O filme basicamente é um retrato de um sujeito repulsivo com quem o público não consegue se identificar. Ao contrário, o observa com distância crítica. E nisso que ajuda muito a interpretação antológica de De Niro e as magníficas cenas de luta, até hoje ainda não suplantadas. Sai finalmente em DVD numa edição especial, em dois discos.

Compartilhe:

    Siga UOL Cinema

    Sites e Revistas

    Arquivo