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Ficha completa do filme

Ficção Científica

Blade Runner, o Caçador de Andróides (1982)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 08/01/2008
Nota 5

Indicado apenas aos Oscars de Direção de Arte e Efeitos Visuais, este foi o terceiro filme de Sean Young e também o terceiro de Daryl Hannah, que o filme transformou em estrelas. O holandês Rutger Hauer era o ator preferido do diretor Paul Verhoeven antes dessa sua primeira experiência no cinema americano. O cineasta Ridley Scott, junto com o irmão Tony, é dono de uma produtora de comerciais, RSA, que já realizou mais de 2000 filmes publicitários. Estreou no cinema ganhando o Prêmio do Júri no Festival de Cannes em 1978 com "Os Duelistas" e estourou no filme seguinte, "Alien, o Oitavo Passageiro", Oscar de Efeitos Especiais em 1979 - que o levou a continuar na ficção científica com este filme. Depois formou com o irmão a Scott Free Productions. Também são donos dos históricos estúdios Shepperton, na Inglaterra, e The Mill, um estúdio de CGI (Efeitos Especiais). Concorreu ao Oscar em 2000 por "Gladiador" e fez sucesso novamente com "O Gângster" em 2007. Espera-se que finalmente esta seja a edição definitiva do filme cult por excelência.

É redudante dizer que "Blade Runner" é visualmente espetacular. Basta dizer que não envelheceu e ainda continua notável. Mesmo naquela altura de sua carreira, Scott era um mago do "contraluz" e contou aqui com a ajuda dos efeitos especiais de Douglas Trumbull. Quem foi responsável pela concepção visual do filme fez um trabalho inegavelmente brilhante. A Los Angeles do começo do século 21 é marcada por uma chuva perpétua, onde as maravilhas do progresso (naves voadoras, robôs) contrastam com o lixo e a miséria, sempre emoldurados por anúncios comerciais de firmas japonesas que, segundo o filme, já teriam controlado o mundo.

A maneira certa de ver "Blade" é como uma transposição dos policiais da década de 40, os chamados film-noir, para o futuro. Basta reparar nos figurinos (no penteado da heroína), na decoração dos ambientes (onde predominam as venezianas), na própria construção dramática do filme. Como acontecia nos filmes dos detetives Sam Spade ou Phillip Marlowe, a história era narrada pelo herói ou anti-herói, Deckard (Ford, na época mudando sua imagem de Indiana Jones), que é um "Blade Runner", expressão que designa os encarregados de caçar e matar andróides fugitivos. Esses andróides chamados "replicantes" são utilizados como trabalho escravo em regiões perigosas. São quase iguais aos humanos, com freqüência escapam, como aconteceu agora com o grupo liberado por Batty (o holandês Rutger Hauer, numa impressionante criação).

O filme foi um fracasso de bilheteria nos EUA ao evitar as cenas de ação e ficar marcado como uma fita policial para intelectuais, com desenvolvimento lento, cenas escuras, em que o clima é mais importante que o confronto. Só nos últimos dez minutos o filme realmente se explica, assumindo uma postura existencial, fazendo indagações que transcendem o gênero. Os replicantes têm pouco tempo de vida, mas será que isso não acontece com todos nós? Deckard poderá perder a mulher que ama, a replicante Rachael (a bela Sean Young), a qualquer momento, mas alguém pode afirmar o contrário de qualquer amor? Não seríamos, portanto, todos nós meros replicantes?

Os 30 milhões de dólares de orçamento ficam comprovados no virtuosismo do filme, que tem idéias fascinantes, como a construção do replicante Batty, que, à maneira de Frankenstein, procura seu criador, com ilações até shakespereanas. Depois do fracasso inicial de bilheteria nos EUA, o filme acabou se tornando "o cult por excelência"; ou seja, uma fita que só é apreciada posteriormente. Soube-se mais tarde da interferência do estúdio Warner na montagem do filme, acrescentando uma narrativa em off que esclarece detalhes do filme e lhe dando um final mais otimista (as cenas externas foram tiradas do arquivo, aproveitando imagens não utilizadas de "O Iluminado"). Também foram editadas diferentes versões, com mais ou menos detalhes de violência. Finalmente a Warner liberou a chamada "versão do diretor" sem a narrativa em off e com algumas mudanças menores, uma outra tomada de um unicórnio e, em vez do final feliz, corta-se assim que se fecham as portas do elevador para a fuga. Sem happy end ou um melhor clímax.

Particularmente, prefiro a versão original, até mesmo porque esse tipo de monólogo interior só aumentava a semelhança com o gênero film-noir. Não ficou resolvida a questão até hoje polêmica de que Deckard seria também um replicante (um pequeno detalhe não explicado no filme é o unicórnio caído no chão deixado pelo policial). Na história original, só replicantes sonhariam com unicórnios. Depoimentos contraditórios de Ford e o diretor Scott continuam a deixar a questão em suspenso.

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