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Ficha completa do filme

Policial

Scarface (1983)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2005
Nota 4

Tem gente que considera inesquecível Al Pacino, com todos os seus excessos, fazendo o papel de Scarface, na refilmagem de 1983, de Brian De Palma, com roteiro de Oliver Stone. Ele faz o líder de uma quadrilha de traficantes em Miami que comete o erro de também se viciar em droga.

Michelle Pfeiffer no papel que a revelou no cinema, magra e deslumbrante. E o filme tinha algumas das seqüências de ação e violência mais fortes já realizadas pelo cinema.

Poucos se lembram de que o filme é a refilmagem de outro "Scarface", o clássico de Howard Hawks e que, com justiça, é considerado um dos filmes mais famosos e polêmicos do gênero. E também um dos primeiros a ter problemas graves com a censura, que por sinal lhe impôs um subtítulo moralista, "A Vergonha de uma Nação".

Este "Scarface", de 1932, é uma produção do excêntrico milionário Howard Hughes, também famoso como pioneiro da aviação (e que foi biografado em 2004 em "O Aviador", de Martin Scorsese). Ele vinha se dedicando ao cinema desde 1926, logo depois de herdar uma fortuna. Tinha feito vários filmes e no final das contas perdido muito dinheiro.

Por isso achou que fazer uma fita de gangster era o que lhe dava mais chance de sucesso, e chamou para realizar o projeto aquele que considerava o melhor e mais capaz diretor de Hollywood, Howard Hawks. Foi ele quem chamou para escrever o roteiro um dos maiores escritores do teatro, Ben Hecht. E lhe deu a idéia básica: fazer uma espécie de adaptação da vida da família dos Bórgia, só que vivendo em Chicago nos anos 30. Ou seja, César Bórgia seria o gangster Al Capone e teria mesmo uma atração incestuosa por sua irmã, que seria uma espécie de Lucrécia Bórgia.

Esse seria o ponto de partida para um projeto muito complicado, porque na época havia uma grande rejeição contra os filmes de Hollywood que pareciam endeusar os gangsters, como "Alma no Lodo" ("Little Caesar", 1931), com Edward G. Robinson, e "O Inimigo Público Número Um" ("The Public Enemy", 1931), com James Cagney.

Mas é fato que a história é inspirada na vida de Capone, que realmente tinha uma cicatriz como o Scarface do filme, embora fosse no pescoço e não no rosto. Hawks sempre declarou que chegou a consultar os gângsteres sobre o projeto e que o próprio Capone teria gostado tanto do filme que tinha uma cópia pessoal dele. Pode ser exagero (e Hawks era famoso por seus exageros e mentiras), mas o fato é que muitos incidentes da história são inspirados em fatos reais e que a quadrilha de Capone ficou até lisonjeada em ser mostrada em um filme.

O filme também é famoso por causa de seu elenco que revelou alguns astros então desconhecidos. Queriam colocar Clark Gable, mas é Paul Muni quem faz o papel-título. Ele foi descoberto no teatro ídiche de Nova York e relutou muito antes de fazer o personagem. Eventualmente Muni até ganharia um Oscar de Melhor Ator por "A História de Louis Pasteur" ("The Story of Louis Pasteur", 1935), embora para muita gente seu estilo de representar seja um pouco exagerado e teatral.

Também da Broadway veio um ator famoso por lá e amigo de Ben Hecht, chamado Osgood Perkins, que interpreta o egoísta chefe da gangue, Johnny Lovo. Osgood morreu em 1937 e hoje é mais lembrado como o pai do ator Anthony Perkins. Boris Karloff, famoso como Frankenstein, conseguiu o papel do gangster rival porque era antigo amigo de Hawks. "Scarface" foi também o filme que revelou e transformou em astro George Raft, que na vida real havia sido dançarino, gigolô e até o fim da vida foi amigo e protegido dos gangsters de verdade. Hawks achou que ele tinha um tipo todo especial, com uma maravilhosa qualidade impassível.

Curiosamente ele e Muni se tornaram amigos também na vida real e foi Raft quem trouxe para o filme sua amiga Ann Dvorak, uma jovem de 18 anos que lembra bastante Joan Crawford e que às escondidas se tornaria por uns tempos amante do diretor. A cena em que ela dança com Raft foi, inclusive, inspirada num episódio real que Hawks viu envolvendo o casal numa festa. Ann teve uma boa carreira a partir deste personagem, da irmã pelo qual o gângster tem uma fixação incestuosa.

O personagem de Raft foi inspirado no guarda-costas de Capone, Frank Rio, mas o detalhe que marcou o personagem e a carreira do ator foi uma idéia do diretor, usar uma moedinha com a qual ele fica brincando o tempo todo. Raft mais tarde até satirizaria isso em "Quanto mais Quente Melhor" ("Some Like It Hot", 1959), de Billy Wilder. Segundo Hawks, ele tirou a idéia de um gângster verdadeiro que deixou um níquel no corpo de um inimigo morto, como sinal de respeito.

O filme foi rodado em 1931 em um estúdio que ficava no Boulevard Santa Monica, com uma orquestra no set para dar o clima adequado para os atores representarem. Na seqüência inicial, Hawks fez uma espécie de homenagem ao cinema mudo, inspirada na morte de um gângster, um certo Big Jim Colosimo, morto pela quadrilha de Capone: durante três minutos a câmera passeia pelo que foi obviamente uma grande festa de bandidos.

O resto do filme está cheio de momentos memoráveis, mas o problema foi que a censura implicou com o projeto. Naquela época ainda não existia o código de auto-censura dos estúdios e muitos estados até proibiram o filme. Chegaram a rodar finais alternativos, mais moralistas, eliminar seqüências inteiras e referências raciais, atenuaram momentos mais fortes, inclusive deixando vago o tema do incesto.

O produtor Hughes brigou muito, tentou conseguir o apoio da imprensa, mas mesmo assim teve que admitir vários cortes e concessões. Mas nada disso tirou o poder e a influência do filme, até mesmo pela esplêndida fotografia de Lee Garmes. Inclusive porque durante anos o filme ficou inacessível e se tornou lendário. Cópia excelente, que merece ainda uma edição definitiva.

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema [resenha-data-cadastro]
Nota 1

Refilmagem do clássico "Scarface, Vergonha de uma Nação" (1932) com Howard Hawks, agora com roteiro de Oliver Stone que atualiza o personagem.

Extremamente violento (teve oito cortes quando passou em nossos cinemas), exagerado (ou sem controle), talvez por isso mesmo se tornou cult. Pacino deita e rola no personagem sem qualquer freio, principalmente com o excesso de palavrões. Por isso muita gente o acha caricato aqui, outros adoram.

Embora seja considerado dos filmes mais discutíveis do diretor De Palma, ele ainda tem assim tem momentos de virtuosismo e grandes sacadas de narração. Foi também a revelação de Michelle Pfeiffer (depois deum início hesitante em "Grease 2" ela surgiu magra e deslumbrante neste filme).

Chegou a ser indicado para Pior Diretor (Framboesa) e Globo de Ouro (Direção, Trilha de Moroder e Pacino).

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