Filha da Luz (2000)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2005

Nota 3

Até hoje ainda não entendi o Oscar de Coadjuvante para Kim Basinger por "L. A. Confidential" (estava razoável, mas porque cismaram de premiá-la é um mistério) e menos ainda a maneira estranha que ela administrou sua carreira, fazendo depois disso apenas dois filmes desastrosos, "África dos meus Sonhos" ("I Dreamed of África"), e este suspense que foi descartado pela crítica americana e ignorado pelo público. E com toda razão.

Aliás, outro mistério é o que o diretor Charles (ou Chuck, ele muda conforme o filme) anda fazendo também com sua carreira. Eu o conheci bastante bem quando esteve no Brasil para lançar "O Máskara" (assumido mais discretamente gay, veio com o companheiro) e me pareceu um realizador empenhado e sério. Mas por que diabos depois se meteu a fazer aquela bobagem de "Queima de Arquivo" com o Schwarzenegger? E por que aceitar este filmeco, ainda mais inferior?

Francamente, "Filha da Luz" não chega a ser horrível, é só igual a dezenas de outros filmes vindos depois de "Bebê de Rosemary", há três décadas atrás. Nem sequer é apocalíptico como poderia parecer. E se você pensar um mínimo sobre sua trama não faz o menor, mas o menor sentido, desde pequenos detalhes (pegar táxi na chuva em Nova York, que é impossível, ter carro em Nova York o que é muito raro para uma enfermeira) até as perseguições (coisas de cinema), mas todo o sentido da trama.

Se a menina é iluminada (para que e por que, sai-se do cinema sem entender), e ajudada por anjos da guarda que andam aparecendo com freqüência, porque não resolveu logo tudo, não precisava passar por toda aquela confusão. Mas aí é claro que não teríamos filme, o que na verdade teria sido melhor para todo mundo.

Kim Basinger, já dando sinais da idade, mas ainda uma mulher atraente, tem que enfrentar o bandido que acaba sendo o chefe de uma seita (o inglês Rufus Sewell que tem olhos esbugalhados) que se revela diabólica literalmente.

Claro que existe aí uma crítica a seitas diferentes como a Cientologia, Reverendo Moon e outras que fazem a lavagem cerebral nas pessoas. Mas no filme a tia também revela dons paranormais (de vez em quando ela observa alguns demônios voadores), no que acaba sendo uma correria inverossímil e sem sentido para salvar a criança, pretexto para alguma ação e certo clima (nem se pode dizer que a fita seja mal feita, ela simplesmente não faz sentido).