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Ficha completa do filme

Drama

Sunshine - O Despertar de um Século (2000)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2002
Nota 4

Uma das maiores injustiças no Oscar 2001 foi ter se esquecido deste filme, talvez porque ele tem uma longa duração, talvez porque foi lançado nos EUA no momento errado. Mas vem antes de tudo nos relembrar como é talentoso o diretor húngaro Istvan Szabo, que depois de ter feito uma série de fitas bem sucedidas estreladas por Klaus Maria Brandauder (começando com "Mephisto", Oscar de Filme Estrangeiro, teve depois "Coronel Redl" e o pouco visto "Hennessen").

Retorna agora com esta produção ambiciosa, falada em inglês e estrelada por Ralph Fiennes, com a curiosidade dupla de que ele aparece com freqüência pelado (o que não énovidade na carreira dele, já fez isso antes várias vezes) e no caso, fazendo três papéis diferentes, em três gerações, avô, pai e filho. Na verdade, não especialmente bem ou com grandes diferenciações. Escrito por Szabo e Israel Horovitz, o filme é realmente uma saga familiar, que retrata também toda a História do país neste século. É um grande painel de uma sociedade só que vista pelo microcosmo de uma família cujo sobrenome original é justamente esse, se traduz assim, Sunshine (brilho do sol).

O curioso é que quando se fala de uma família no fundo se está também se falando de muitas outras, de todas. Por isso, o filme não se limita apenas aos judeus mas a qualquer pessoa. Com um pouco de melodrama, de romance, desegredos familiares (aqui no Sunshine é uma receita de um licor miraculoso que foi tão bem escondida que acabou se perdendo), de alegrias e tragédias. Ou seja, este é daqueles filmões como muitos de antigamente e que hoje estão meio fora de moda. Mas há uma diferença fundamental.

Embora a primeira vista pareça ser apenas uma história de amor mal resolvida em três gerações, é muito mais que isso Está falando na verdade da relação do homem, qualquer homem com seu tempo, com a política, com os governantes, com as decisões e opções que tem que fazer ou deixa de tomar. Então a fita começa quando a família (que viverá sempre na mesma mansão) já muito rica (e os empregados também os acompanharam a vida inteira, fazendo um contraponto) está com dois filhos grandes e a ponto de darem certo em suas carreiras.

Um deles, Fiennes prefere trocar seu sobrenome obviamente judeu para outro mais húngaro porque isso pode ajudar em sua carreira e na fidelidade ao império Austro-Húngaro.

Outro irmão (feito pelo inglês de olhos esbugalhados James Frain) é socialista e por isso será perseguido e eventualmente terá que fugir do país. Quando estoura a Primeira Guerra Mundial é que as coisas realmente ficam complicadas. Até na relação entre Fiennes e sua mulher, que o abandonará (feita quando jovem pela inglesa Jennifer Ehle, excelente atriz premiada com o Tony, e depois na segunda época como velha pela própria mãe da atriz, outra premiada, Rosemary Harris).

Em vez de aprender com o erro dos pais, a segunda geração dos Sunshines irá custar a perceber que os nazistas vão tomar o poder. Não fugirão para a América (há um romance possível do Fiennes com a sua cunhada feita por Rachel Weisz, mas é uma situação mal resolvida) e serão perseguidos e mandados para um campo de concentração onde muitos morrerão. Mas ainda não aprendem. Na terceira geração, o neto (outra vez Fiennes) irá colaborar com o invasor (ou libertador) comunista, irá aderir ao partido e eventualmente até renegar os amigos para poder ser o campeão de esgrima e vencedor da medalha de ouro nas Olimpíadas em Berlim.

Revelar mais seria indiscreto. O importante é que tenham em mente que a fita não é um mero desfilar de reviravoltas melodramáticas mas que coloca tudo dentro de um contexto dramático muito sério e complexo. E não há como não nos identificarmos com a ingenuidade e esperança que se renova e se frustra acada nova geração. Ou seja, vocês, eu também somos filhos de famílias que poderiam muito bem se chamar Sunshine e cometermos os mesmos erros. Se não estamos já fazendo agora, sem sequer nos darmos conta.

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