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Ficha completa do filme

Drama

A Caminho de Kandahar (2001)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2002
Nota 4

Injustamente não premiado no Festival de Cannes, este filme iraniano não pôde ser mais atual. Foi lançado no momento em que sucedia a guerra justamente no deserto de Kandahar no Afeganistão. Conta uma história real e trágica de uma situação ainda mal conhecida. Até porque é difícil de crer que isso suceda e o filme nos dá um testemunho realmente chocante (mas de forma poética não é daquelas fitas em você passa mal).

É inspirado na história de uma jornalista afegã radicada no Canadá (a bela Pazira, que faz uma variante dela mesma) que tentou voltar àquele país para salvar um parente, no caso, ela tenta chegar antes de certa data porque a irmã prometeu se matar. Disfarçada, ou seja vestida como as mulheres se vestem por lá, coberta da cabeça aos pés, ela consegue à custa de dinheiro e algumas pessoas de boa vontade atravessar o Irã e chegar até a fronteira do Afeganistão.

Interpretado por amadores, realizado em locações autênticas (certamente com risco de vida), o filme tem momentos realmente extraordinários. Desde o início, quando ela chega de helicóptero até o posto da Cruz Vermelha, onde estão esperando os mutilados de guerra que aguardam a chegada de uma perna artificial (há um momento terrível e forte, primeiro quando as pernas são jogadas de pára-quedas e outra quando eles saem numa corrida macabra).

Toda a jornada é impressionante, pela veracidade dos encontros, das performances, das figuras (como o menino que foge da escola onde aprendem o Alcorão para tentar conseguir alguma coisa que sirva para ajudar a família, ou o americano que se passa por médico para tentar ajudar as pessoas mas tem que examinar as mulheres sem tocá-las. Mais tarde ficou-se sabendo que esse sujeito era um fugitivo da justiça americana).

E com alguns outros momentos também plasticamente belos (a procissão de casamento que tenta atravessar a fronteira). A verdade é que o diretor é um artista, certamente o maior realizador do Irã (sou admirador do seu "Gabbeh"). Sua causa não poderia ser mais justa, sua denúncia não poderia ser mais oportuna, sua fita se não é perfeita (até pela precariedade com que foi realizada) é extremamente comovente e sensível.

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