A Cartada Final (2001)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2002

Nota 1

Primeiro encontro nas telas de dois mitos do cinema moderno, Marlon Brando e Robert De Niro (que por coincidência ganharam Oscars interpretando o mesmo personagem, o Corleone de "O Poderoso Chefão" I e II respectivamente, sendo que De Niro fez propositalmente uma imitação de Brando jovem para dar sentido ao personagem).

Ainda mais acrescido da presença de Edward Norton, já duas vezes indicado ao Oscar e que muita gente considera o melhor ator desta nova geração. Mas é impossível corresponder a essa expectativa. O filme é basicamente uma história policial de assalto, com algumas reviravoltas, algum clima, algumas surpresas não muito surpreendentes. Ou seja, pode-se ver com certo prazer. Mas está longe de ser uma grande e memorável experiência de vida.

É também curioso por ter sido dirigido por Frank Oz, que normalmente faz comédias(como "Os Picaretas", "Os Safados", "Será que ele é?") e cujo ponto alto da carreira é ter sido sempre a voz do sapo Kermit (Kako no Brasil) dos Muppets, assim como o Yoda do "StarWars". Não é propriamente um curriculum que o qualifique para uma fita de assalto, um gênero que nos anos 50-60 esteve muito em voga.

Hoje nem tanto talvez porque roubar virou banalidadee violência, em vez de sinal de inteligência e sofisticação. O resultado não é mal mas também não especial. Aliás correm histórias de que o roteiro não estava pronto quando começaram as filmagens, que ele foi mexido porvárias mãos (inclusive Lem Dobbs de "The Limey/ O Estranho"), inclusive pelo fato de que Norton é famoso por se meter nos scripts e dar palpites.

A figura central é a de De Niro que segundo o velho clichê do cinema policial(e Noir) é um ladrão aposentado e que adora jazz, (isso dá chance para uma trilha charmosa com jazz e até ponta da cantora Cassandra Wilson e Mose Allison).

O ritmo é ágil mas não excessivamente como está na moda, não é MTV. A fita já abre com uma seqüência de dez minutos em que Nick está roubando um cofre durante uma festa super chique e depois sabe escapar com muita classe. Nick tem um romance com uma bela negra Diane com quem imagina se casar (aliás esse é o gosto dele na vida real) que é feita pela extraordinária Angela Bassett (que infelizmente tem muito pouco a fazer na fita além de enfeitar).

Ser o último trabalho dele é mais outro clichê enquanto o fato de Jack (Norton) se passar por deficiente é só para o ator exibir seus maneirismos. O importante do filme são os encontros entre Max e Nick. Brando desta vez aparece um pouco mais do que em filmes recentes, mais à vontade, fazendo mais relaxado e menos displicente o personagem do corpulento (por que não dizer, obeso líder do submundo).

As cenas entre os dois não são magistrais mas são sempre interessantes. Os três atores temporém apenas duas cenas juntos e cada um mantém seu estilo diferente(apesar de tudo eu ainda prefiro o de Brando). A execução do assalto é queé um pouco complicada demais, cheia de idas e vindas, truques (aquela da água dizem ser verdadeiro), surpresas e novidades. A fotografia é particularmente boa (parece que é o primeiro filme como diretor de fotografia de um operador para Conrad Hall e Owen Oirzman).

No entanto, nasoma geral, o filme é competente, dá para assistir mas só isso.