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Policial

Assassinato em Gosford Park (2001)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2002
Nota 1

Sou admirador de Robert Altman, principalmente por sua insistência em fazer filmes pessoais, até experimentais, indo contra o sistema dos estúdios, sem fazer concessões, por vezes até pagando alto preço por isso (nos anos 80, foi obrigado a trabalhar na Europa e para a TV em fitas menores).

Especializou-se em fitas com grande elenco, mostrando várias situações paralelas em torno de um fato qualquer (em geral, um evento, como um casamento), sem tramas muito fortes, mas com vários personagens inusitados e curiosos, se entrecruzando.

Também se tornaram suas características o uso de som ambiente (várias bandas de som ambiente, se mixando de forma mais realista) e as grandes interpretações (Altman se "defende" dizendo que não dirige atores, que os deixa livres e por isso tem bons resultados). Obviamente aos 76 anos (é de 1925) já não tem a mesma energia, mas conserva o bom humor e a ironia (e também uma carreira irregular, que sempre foi sua característica, errando com muita freqüência como na fita anterior, a fraca "Dr T e as Mulheres").

De qualquer forma, num ano relativamente fraco, "Assassinato em Gosford Park" acabou sendo indicado para vários Oscars, inclusive Filme e Direção. Foi um exagero. O filme é razoável, bastante curioso, tem um excelente elenco, mas está longe dos melhores momentos de Altman (que seriam ainda "Nashville", "Mash", "Short Cuts", "Cerimonia de Casamento" e "O Jogador"). Talvez justamente por não ter um enredo mais forte (o roteiro foi escrito pelo também ator Bob Balaban e como sempre acontece com Altman, em grande parte improvisado, o parentesco entre dois personagens principais por exemplo só foi inventado por exemplo já durante a produção).

Suas fontes de inspiração óbvias são os mistérios de Agatha Christie (como nos livros dela, a base é um assassinato misterioso acontecido numa mansão inglesa nos anos 30) e uma série de TV inglesa chamada "Upstairs and Downstairs" (que justamente mostrava o contraste entre os patrões e empregados de uma mansão britânica, até porque a divisão social de castas e classes sempre foi muito marcada na sociedade inglesa).

O filme segue esses dois fios condutores, sem levar muito a sério nenhum deles (de uma certa maneira é frustrante e não especialmente engraçado o fato de que o inspetor de polícia (Stephen Fry, de "Wilde") seja incompetente e desajeitado (sem cair exatamente na farsa à la Inspetor Clouseau).

O grande mérito é Altman ter conseguido reunir um excepcional elenco, quase totalmente britânico, confirmando o mito (real) de que eles são todos estupendos. Tanto que um dos raros americanos (o outro é o roteirista Balaban, que faz o papel de Norbert Weissman) é o jovem Ryan Philippe, que tem um excelente personagem (um valet de um produtor de cinema americano em visita ao lugar e que guarda alguns segredos), mas que estraga completamente com um sotaque estranho e nenhuma verdade.

O filme mostra as duas ações paralelas, a vida dos patrões nos andares superiores (jantar, saraus onde se canta e se fala mal da vida alheia, com a presença de um ator famoso dos palcos, Ivo Novello, interpretado por Jeremy Northam, ocasionais brigas e infidelidades, algumas intrigas de dinheiro) e nos inferiores (onde dormem e convivem os diversos empregados dos convidados e da mansão).

A verdade é que nada de tão importante sucede, nem mesmo a morte é fundamental. Com excesso de gente, os personagens não são tão desenvolvidos quanto se gostaria, em particular Kristin Scott Thomas (que faz a dona da casa com sua classe habitual), Emily Watson (uma camareira intrometida), Alan Bates (que quando jovem era ótimo mas perdeu o brilho).

Uns poucos deixam sua marca simplesmente porque são excepcionais, no caso Helen Mirren (indicada como Coadjuvante faz muito pouco), Maggie Smith (que tem as frases mais ferinas, também indicada ao Oscar, ela já tem dois) e Eileen Atkins (que faz a cozinheira).

Robert Altman tem sido premiado (Globo de Ouro, AFI, foi o melhor filme britânico do ano pelo British Film Institute, Prêmio Especial em Berlim), mas é mais pela carreira e pelo fato de ter conseguido ainda fazer um filme interessante. Quem gosta dele certamente irá curtir este com mais simpatia.

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