Vencedor do Festival de Gramado (Filme, Direção, Roteiro e Atriz Coadjuvante - Sonia) Memórias Póstumas Braz Cubas (é assim que se grafa otítulo do filme segundo os próprios letreiros dele) é um caso singular de uma fita que resolve os problemas mais difíceis e falha nos mais simples.
Como qualquer estudante sabe, Machado de Assis é um dos escritores mais complicados e complexos para se ler e ainda por cima adaptar, onde a maneira de narrar é mais importante do que a história propriamente dita. E se o livro Memórias Póstumas de Braz Cubas (nada a ver com o homônimo fundador da cidade de Santos) é sua obra prima, também é dos mais complicados para se levar à tela. Em parte porque conta a vida de um não-herói, de alguém que passou pela vida em branco, nada fez de importante ou notável, não casou, não trabalhou, não teve filhos, amou pouco e mal. Portanto, tudo aquilo que em princípio não funciona em Cinema, que é basicamente ação.
A adaptação feita pelo diretor André Klotzel ("Marvada Carne") e José Torero é particularmente bem sucedida, fazendo com que o personagem seja interpretado por dois atores, na maturidade ele é interpretado por Reginaldo Faria (uma figura de grande empatia, confiável, de bom aspecto) e quando jovem por Petronio Gontijo (que se sai bem).
Assim, já começa com sua própria morte no caixão e vai indo para atrás, mostrando seu leito de morte, com o narrador/ fantasma interferindo na ação, comentando fatos e situações, dando uma certa leveza à narrativa, cujo maior gancho é justamente uma mulher que lhe aparece para se despedir nos últimos instantes. O roteiro enfatiza certas brincadeiras (como a da Coxa), até modernizando a maneira de narrar. Uma pena que acertando no tom e no estilo, a direção tenha errado na finalização.
Seria muito simples cortar uns bons 15 minutos, simplesmente lhe dando um ritmo mais intenso. O erro grave porém é a escolha da atriz central - fiz questão de não guardar onome, acho melhor esquecê-la - que não tem a aparência nem a intensidade para viver o papel (quando ele a chama de "magnífica" parece gozação).
Realizado com uma produção de época bastante eficiente (basicamente na Bahia, Parati, Rio de Janeiro), o filme traz também de retorno ao cinema nacional. Sonia Braga, já senhora, que faz uma amante do jovem Braz que mais tarde o reencontra envelhecida e decadente. Embora haja para o filme um público cativo (aqueles vestibulandos preguiçosos demais para ler o livro), há também na fita aquele velho defeito do Cinema Brasileiro de colocar nudez desnecessariamente.