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Ficha completa do filme

Musical

Moulin Rouge - Amor em Vermelho (2001)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2002
Nota 5

Eu sou fã de "Moulin Rouge", para mim o primeiro musical realmente inovador e revolucionário deste novo século. Mas entendo também que alguns possam se assustar com sua montagem excessivamente rápida, seu ritmo exagerado. É possível também que essa minoria tenha razões até mesmo plausíveis e lógicas. Porque não se deve assistir Moulin Rouge com o cérebro mas com o coração.

Realmente ele pode assustar a primeira vista. Por isso mesmo que eu gostei tanto de rever o filme em DVD. Esta é daquelas edições que justificam a existência da nova tecnologia. O enredo pouco tem a ver com o famoso cabaré parisiense que lhe dá o nome (ou com um filme homônimo de John Huston sobre o pintor Toulouse-Latrec que aqui é feito por John Leguizamo, mero background). Erraram os que pensaram que "Dançando no Escuro" de Lars von Trier era o musical para o novo século, "Moulin Rouge" é que consegue esse feito, é realmente pós-moderno na acepção do conceito, fazendo tudo aquilo que a gente apostaria que nunca daria certo, mas que acaba funcionando.

Sua proposta fica clara nas primeiras imagens. É uma história de amor com final trágico, contado no ambiente de um cabaré imaginário, distorcido já pelo imaginário de um poeta infeliz (como ele é o narrador isso justifica tudo o que vem a seguir) que perdeu sua grande amada. É difícil acreditar mas Luhrman pegou canções pops antigas e umas poucas mais antigas ("Diamonds are a Girl's Best Friend", cantada por Marilyn Monroe originalmente, "Nature Boy", sucesso de Nat King Cole, aqui com David Bowie) e transpôs tudo isso para a virada do século 19 para 20 em Paris, onde um poeta (o inglês Ewan McGregor, se redimindo da bobagens que fez em "Star Wars") se apaixona por uma estrela de cabaré que pode apenas namorar por dinheiro, principalmente o milionário que financia o novo espetáculo do lugar e que ainda por cima, dentro da tradição romântica do gênero, está sofrendo de tuberculose (Nicole Kidman, no auge da beleza e inegável talento).

É admirável também o fato do elenco cantar com sua própria voz. A de Nicole é mais do que adequada e Ewan tem uma voz de roqueiro bem eficiente e apropriada. Com seis horas de extras, esta edição em DVD é mais que uma lição de cinema, é uma viagem aos bastidores de uma filmagem, um game interativo pelos prazeres de um filme dançado e cantado, vencedor do Globo de Ouro de Atriz Nicole Kidman e de Filme Musical e premiado com Oscars de Direção de Arte e Figurino (cenograficamente é um desbunde, assim como todo o trabalho de direção de arte, figurinos, maquiagem).

O ponto alto da edição é quando o diretor Baz Luhrman explica que com freqüência ele teve que cortar a espetacular fotografia de JohnO'Connell para melhor contar a história. No DVD, a tela é dividida em uma imagem grande e três pequenas, cada uma delas mostrando quatro diferentes ângulos da mesma cena de dança. Ou seja cada espectador pode se tornar um editor e escolher ele mesmo qual dos ângulos é o melhor. Ou assistir a todos. Isso fica especialmente impressionante no número do tango e do can-can, justamente aqueles que no cinema a gente ficou com vontade de vermais. Também há uma chamada "Por trás da Cortina Vermelha", em oito diferentes pontos do filme, aparece um logo no canto da tela. Se você der o enter, verá um mini-documentário, quase uma nota de rodapé moderna, mostrando como aquela cena foi feita, a preparação, a realização, os problemas.

Os extras demonstram que a fita foi um trabalho sério, inteligente, propositalmente original. Tanto foi ousada demais para levar um Oscar de Filme. Mas por que resistir a Moulin Rouge? Não deixe de ter este extraordinário musical. Mergulhe neste DVD e divirta-se aprendendo também um pouco mais sobre cinema.

Há dois comentários alternativos, com a equipe técnica e o diretor, que diz que tentou copiar em algumas cenas o clima e a rapidez dos desenhos animados antigos da Warner para evitar que o público assistisse o filme de forma passiva. Também confessa citações de outros filmes como "Cantando na Chuva", o comediante Benny Hill, Shakespeare. Há outras preciosidades, como a comparação entre as várias fases do roteiro em desenvolvimento, uma análise da campanha de marketing, vários trailers. Traz ainda comentários em áudio do diretor, sua mulher Catherine Martin, dos roteiristas, Making of (com a história do Cabaré Moulin Rouge, e outros sobre figurino, trilha, maquiagem, coreografia), entrevistas, trailers, music-videos, cenas excluídas, estendidas e de ângulos múltiplos. Mas o ponto alto é mesmo a seção que mostra quatro números musicais rodados em ângulos diferentes (e você pode escolher sua edição, conforme preferir, interativo). Uma inovação é que vem áudio para deficientes visuais, ou seja, uma espécie de áudio-book, em inglês, com um narrador explicando cena por cena. A edição americana vem com os mesmos extras mas a arte da capinha é mais elaborada.

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