Os Outros (2001)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2002

Nota 4

Este filme é um presente que Tom Cruise fez para sua então mulher, Nicole Kidman (ele produziu a fita), que agora se consagra definitivamente como estrela e boa atriz (uma parceria rara se considerarmos ela ainda como grande beleza). Foi ele quem descobriu o diretor espanhol (mas nascido no Chile) Alejandro Amenábar, que se revelou com uma fita que passou no Brasil com sucesso, "Morte ao Vivo" ("Tesis", 1996, que lançava Eduardo Noriega ao lado de Ana Torrent e é ainda o melhor filme já feito sobre "snuff movies", um suspense de primeira linha). Depois disso fez outro bom filme, "Preso na Escuridão" de 1997 (refilmado depoisem 2001 por Cameron Crowe como "Vanilla Sky", com Cruise de protagonista e Penélope Cruz como sua namorada, provocando o fim do casamento de dez anos com Nicole).

"Os Outros" foge do padrão do terror comum, estilo "Pânico". É mais europeu, mais refinado, de época, tem certa semelhança com "O Sexto Sentido" mas muito mais com "Os Inocentes" de Jack Clayton (a melhor adaptação do livro "De Outra Volta do Parafuso" de Henry James). Amenábar embora tenha rodado em inglês, teve a inteligência de manter o controle total do projeto, rodando na Espanha (que consegue se parecer sem problemas com a Inglaterra) com sua equipe habitual. A fita tem um lado propositalmente antiquado (Nicole está por exemplo penteado e vestida de forma a se parecer bastante com Grace Kelly). Faz lembrar filmes de suspense dos anos quarenta, aqueles que tinham mulheres em perigo e romances góticos britânicos (tipo "Rebecca", "Jane Eyre", "Morro dos Ventos Uivantes").

Mas cuidado, mais uma vez não leia muito a respeito do filme antes de assisti-lo. Nem conte para os amigos, o final é surpresa sim. Não quero contar para não estragar a fita, basta dizer que os fatos são verossímeis (realmente existe essa doença dos filhos, que o hábito das fotos dos mortos é real e sucedia antigamente), a direção é habilidosa e o filme não provoca sustos fáceis, é mais de clima, de ambientação, de envolvimento que vai crescendo até uma resolução satisfatória. Nem é preciso dizer que Nicole está extraordinária e domina o filme, com seu inegável carisma, talento e beleza. A capinha brasileira não informa mas o formato de tela é Widescreen.