É bem talentoso este filme de estréia de George Clooney como diretor, embora não tendo feito sucesso de bilheteria nos Estados Unidos (de tal forma que a Miramax chegou a reprisá-lo para tentar atingir o público novamente, um feito muito raro).
Aqui, depois de "Onze Homens e um Segredo", Clooney reuniu novamente a turma toda de amigos, com Julia (em papel pequeno mas marcante, bem charmosa), Drew (fofinha e simpática como sempre), Brad Pitt e Matt Damon (em pontinhas mudas) e ele mesmo num papel secundário.
Quem estrela é justamente um ator coadjuvante que fez dezenas de fitas independentes e de vez em quando teve destaque (foi o vilão de "As Panteras"): Sam Rockwell. Não imaginava que tivesse o fôlego de segurar um filme tão bem como aqui. Aliás, na verdade, mesmo Clooney fez um bom trabalho, conduzindo bem os atores e contando uma história extremamente difícil, porque é ambígua. Não se sabe nunca se o que conta o protagonista é verdade ou fantasia.
Embora afirme ser baseado em pesquisas e fatos, o filme conta uma autobiografia fantasiosa de uma celebridade americana chamada Chuck Barris, que conhecemos mal no Brasil. Ele foi criador de shows de games que o Silvio Santos em geral copiava ("Namoro na TV"/ The Dating Game) ou passava ("The Gong Show", onde mostrava no Brasil apenas os candidatos, não o apresentador que era Chuck). Eles inclusive o acusam de ser um dos responsáveis pela queda do nível da TV americana (o filme tem algumas entrevistas com pessoas reais como Dick Clark que o conheceram pessoalmente), ou seja os reality shows que hoje em dia infestam as TVs.
O curioso da história dele (que é contada em flash back, quando Chuck está fechado num hotel pelado pensando em se matar) é que quando estava em crise, ele teria sido convocado pela CIA e treinado como matador profissional, tendo liquidado em sua vida mais de trinta pessoas (o filme ilustra alguns dos casos ocorridos na Finlândia e em Berlim Oriental), o que lhe provocaria essa crise existencial.
Com senso de humor, sem negar ou comprovar, o filme conta a vida dupla do personagem com o problema final de ter um traidor no grupo. Tudo é contado de forma competente, rápida, com uma pós-produção criativa e um roteiro como sempre inteligente de Charlie Kaufman (aquele mesmo de "Quero ser John Malkovich" e do pretensioso "Adaptação"). Duvido que o filme tenha também aqui no Brasil um apelo comercial muito grande e Clooney, depois do fracasso de "Solaris", faz bem em estar planejando o "Onze Homens e um Segredo Parte II". De qualquer forma, sua estréia como diretor é digna e promissora.