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Ficha completa do filme

Drama

Madame Satã (2002)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2004
Nota 3
Madame Satã

No mesmo Festival de Cannes, que revelou o "Cidade de Deus" de Fernando Meirelles, Walter Salles também patrocinou outro filme brasileiro que passou no Un Certain Regard, mostra oficial e paralela. A vida toda ouvimos falar do verdadeiro Madama Satã, que era um malandro célebre da antiga Lapa, obviamente homossexual, mas um negrão enorme, forte, campeão de capoeira, briguento (passou anos em prisão, inclusive na Ilha Grande), ou seja, o oposto do protótipo gay. O personagem inspirou "Rainha Diaba", de Antonio Carlos Fontoura, que tomava mais liberdades com os fatos, mas que teve melhor resultado.

Aqui fizeram todas as opções erradas, em particular de roteiro. Escolheram para contar os primeiros anos de sua vida. Mas é aquele problema de se fazer filme de época no Brasil. A Lapa não existe mais, tudo é filmado em plano fechado, sem mostrar grande coisa. Isso quando não se apela para o desfoque (tantos que teve gente que pensou que fosse problema na projeção). E a vida do herói teria se tornado até mais interessante na segunda parte de sua vida, quando ganhou justamente o apelido (que foi inspirado por um filme homônimo de Cecil B. De Mille).

E mesmo sua morte em 1976. Ou seja, não há praticamente enredo. Mesmo a história de amor dele com um jovem malandro fica confusa pela escalação de elenco (antes ele ataca um moreno no banheiro, tudo é tão escuro que embora pareça outro, fica sempre a dúvida, ainda mais pra estrangeiro). Enfim, esse é um rapaz que se interessa por ele e tem uma relação complicada (mas além de ser um único caso de amor de Madame, também morre fora de cena depois de meia hora, e o herói nem se dá ao trabalho de vingá-lo, fica por isso mesmo, dali em diante não aparece ninguém nada vida dele e o roteiro nem se dá ao trabalho de fornecer conflito ou problemas).

A prostituta de quem ele cria a filha (feita por Marcelia Cartaxo) tampouco tem história ou o que fazer, assim como outro homossexual que circula junto (um negro que também é parecido por demais com Madame). São tantos erros que dá pena enumerá-los. Tem erros de época (num diálogo que parece ser antes de 1930, diz que ele vai ser o novo Valentino, até aí tudo bem, mas fala também de Weissmuller e Gary Cooper, que ficariam famosos no Brasil bem mais tarde). O número musical de Madame parece coisa de Ney Matogrosso (obviamente inspirado nele e nada a ver com a época).

Tem aquelas coisas de filme brasileiro que deixa a cena se prolongar demais, principalmente quando é de sexo e não sabe realizar as cenas de briga (nem mostrar a capoeira). O elenco é muito irregular, se o ator que faz o papel central é razoável, ele faz tudo num tom, o resto do elenco, noutro.

Isso não impediu que o filme tivesse uma certa carreira em festivais gays e tenha consagrado sua melhor coisa, o ator Lázaro Ramos, que ganhou todos os prêmios do ano e se transformou em ator da Globo. Palmas para ele, o personagem, porém, merecia outro filme.

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema [resenha-data-cadastro]
Nota 3

Passou em Cannes 2002, no "Un Certain Regard", mostra oficial e paralela (foi produzido por Walter Salles, que conseguiu que a fita tivesse essa exposição e fosse co-produzida pelo francês Studio Canal Plus). Mas são tantos os erros. Ouviu-se muito falar do verdadeiro Madame Satã, que era um malandro célebre da antiga Lapa, obviamente homossexual, mas um negrão enorme, forte, campeão de capoeira, briguento (passou anos em prisão, inclusive na Ilha Grande), ou seja, o oposto do tipo.

O personagem já inspirou um filme, "Rainha Diaba", de Antonio Carlos Fontoura, que tomava mais liberdades com os fatos, mas que tinha melhor resultado. Aqui fizeram todas as opções erradas, em particular de roteiro. Escolheram para contar os primeiros anos de sua vida. Mas é aquele problema de se fazer filme de época no Brasil. A Lapa não existe mais, tudo é filmado em plano fechado, sem mostrar grande coisa. Isso quando não se apela para o desfoque (são tantos que no cinema teve gente que pensou que fosse problema na projeção). E a vida do herói teria se tornado até mais interessante na segunda parte de sua vida, quando ganhou justamente o apelido (que foi inspirado por um filme homônimo de Cecil B. De Mille). E mesmo sua morte em 1976.

Não há praticamente história. Mesmo a trama de amor dele com um jovem malandro fica confusa pela escalação de elenco (antes ele ataca um moreno no banheiro, tudo é tão escuro que quando aparece outro, fica-se sempre a dúvida). Enfim, esse é um rapaz que se interessa por ele e tem uma relação complicada (mas além de ser um único caso de amor de Madame, também morre fora de cena depois de meia hora e o herói nem se dá ao trabalho de vingá-lo, fica por isso mesmo. Dali em diante não aparece ninguém na vida dele e o roteiro nem fornece conflito ou problemas). A prostituta de quem ele cria a filha (feita por Marcélia Cartaxo) tampouco tem história ou o que fazer, assim como outro homossexual que circula junto (e negro também, é parecido por demais com Madame).

São tantos erros que dá pena enumerá-los. Tem falha de época (num diálogo que parece ser antes de 1930, diz que ele vai ser o novo Valentino, até ai tudo bem, mas fala também de Weissmuller e Gary Cooper, que ficariam famosos no Brasil bem mais tarde). O número musical de Madame parece coisa de Ney Matogrosso (obviamente inspirado nele e nada a ver com a época). Tem aquelas coisas de filme brasileiro que deixa a cena se prolongar demais, principalmente quando é de sexo e não sabe realizar as cenas de briga (nem mostrar a capoeira).

O elenco é muito irregular. Este foi o filme que consagrou Lázaro Ramos, que ganhou muitos prêmios pelo papel central. Ele é competente, mas faz tudo num tom, o resto do elenco noutro. Ou seja, um desacerto total (na verdade, os letreiros finais que resumem a vida do herói são mais claros do que o filme inteiro). Ainda assim, tem gente que defende o filme. Talvez funcione melhor com o público gay.

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