Prenda-me se For Capaz (2002)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2003

Nota 4

Um fato raro: no mesmo ano Spielberg fez dois filmes, este e "Minority Report - A Nova Lei". Tom Hanks está aqui num papel que obviamente é de coadjuvante que ele só aceitou porque é vizinho, parceiro e sócio de Spielberg. A fita acabou sendo um grande sucesso, ultrapassando os 150 milhões de renda. Mas ficou fora das premiações (se atrapalharam com o Globo de Ouro, quando não souberam definir o gênero do filme, que é uma mistura de drama e comédia).

O mestre dos efeitos especiais e da aventura fez uma comedinha de rotina, que lembra realmente uma fita dos anos 50. Os direitos da vida do protagonista Frank Abagnale Jr (baseados em livro de sua autoria, publicado no final dos anos 70) foram inicialmente optados por dois realizadores hoje esquecidos, primeiro Bud Yorkin e depois Hal Bartlett. Resultou neste filme muito agradável. A história é real e tem o roteiro final de Jeff Nathanson. Pode-se sentir ali a mão do diretor, pedindo certos detalhes e humanizações (sem esquecer os letreiros de apresentação que também remetem à época).

O filme gasta bastante tempo em situar a vida familiar do herói, principalmente o pai Frank Sr, que é interpretado por Christopher Walken, num grande momento (ele foi indicado ao Oscar de Coadjuvante por este filme). A mãe é uma francesa que depois se divorcia dele (um papel feito pela consagrada estrela francesa Nathalie Baye). É um filme divertido e realmente funciona, embora a história já seja contada em flashback, ou seja, desde o começo é feito um resumo de quem foi Frank Jr, que crimes cometeu e que agora está sendo preso pelo FBI depois de uma busca incessante por diversos países. Depois é que se retorna a ele moleque na escola, praticando as primeiras malandragens e aí narra-se o resto da história.

Embora já esteja com 28 anos, Leonardo DiCaprio consegue convencer inteiramente tanto como pré-adolescente, como depois no filme todo Frank Jr quando sai de casa, acaba desenvolvendo um esquema de fraudar os bancos através de cheques. Esses são os golpes iniciais, mas depois querendo um pouco de glamour e também meio por acaso se faz passar por co-piloto da companhia Pan American (hoje falida, o filme reconstituiu seus uniformes e outros detalhes). O fato é que em pouco tempo, os golpes que aplica vão se acumulando até chegar além de um milhão de dólares, chamando a atenção de um dedicado oficial do FBI, Carl Hanratty (Hanks). Um burocrata não muito experiente em pesquisas de campo e que por isso mesmo faz suas trapalhadas.

Inicia-se assim um jogo de gato e rato, Carl correndo atrás de Frank e logo no início dá uma grande mancada, encontra Frank num quarto de hotel onde não o reconhece e o deixa escapar. Dali em diante, os dois criam uma espécie de amizade porque Jr não fica por aí, faz se passar por Doutor (formado por Harvard) e vai trabalhar como chefe de um pronto-socorro onde encontra uma enfermeira por quem irá se apaixonar pela primeira vez na vida (Amy Adams). E como ainda é garotão (e mentiroso), quer se casar com a moça e pela primeira vez parece ter encontrado uma família de verdade.

Mas acaba de certa forma feliz (há vários letreiros ao final, que contam o resto de sua história, deixando a platéia bastante satisfeita). Spielberg novamente aproveita sua equipe tradicional (o compositor John Williams usa como fundo várias músicas de época, e novamente como trilha de aeroporto o nosso "Garota de Ipanema"). O fotógrafo Janusz Kaminski parece fazer com que todas as janelas dos bancos estejam explodindo de luz e sol Spielberg porém continua competente e como sempre dá sinais de sua incurável babaquice. Mas como exercício de direção de atores, não podia ter se saído melhor . Atenção para uma participação pequena mas marcante de Jennifer Garner, do seriado "Alias" e "Demolidor") . A arte bem elaborada dos letreiros iniciais é a mesma do menu do DVD.