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Ficha completa do filme

Documentário

Tiros em Columbine (2002)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2003
Nota 5

Vencedor do "Oscar de Melhor Documentário de Longa-metragem", no original chama-se "Bowling for Columbine" (o título se explica: antes de matar os adolescentes em Columbine, os dois assassinos foram numa aula de boliche). Foi também o primeiro documentário que concorreu no "Festival de Cannes" em 46 anos (o anterior foi o "Mundo do Silêncio", de Jacques-Yves Cousteau) e levou o "Prêmio Especial do Júri".

Moore não é um novo Ratinho ou Otavio Mesquita (mesmo usando aquele expediente de invadir a casa dos outros). Além de muito engraçado, aquela coisa bem americana de saber fazer piada com o tempo certo, ele não é vaidoso, pretensioso ou metido. Ao contrário, é até bem educado, discreto, mas incisivo.

Tem um best-seller , o livro "Stupid White Man - Uma Nação de Idiotas", onde ele acaba com o Bush e pelo jeito com muita razão. Na fita, aliás, Bush aparece de forma patética. Moore lembra uma coisa curiosa. No livro "1984" todo mundo fala do Big Brother, do controle das pessoas, mas esquecem do mais importante, que, para manter o poder da ditadura, é preciso que as pessoas vivam com medo, sempre com temor de uma guerra e é isso que ele está fazendo (tem fala dele dizendo que a guerra não terá fim, etc). E como as TVs americanas vivem incutindo medo nas pessoas, seja da violência urbana, seja do negro (reparem como os suspeitos de qualquer crime, mesmo quando inventados são sempre negros).

Tem dois momentos marcantes na fita. Moore leva dois sobreviventes de Columbine para a sede da Wall Mart porque as balas que foram usadas no atentado foram compradas lá. A princípio, eles reagem com estranheza mas depois de certa pressão, também da mídia, a Wall Mart decide retirar a venda de balas de suas lojas (o que é uma pequena vitória). O filme se encerra com uma entrevista com Charlton Heston, que apareceu antes como representante da "Associação Nacional de Portares de Rifles" (são dois discursos furiosos e fascistas, de assustar). Ele toca a campainha, Heston o atende no dia seguinte, mas quando vê que as perguntas não lhe interessam, despede-se e sai de cena mancando (ele tem problemas nas pernas, está aleijado), num dos momentos mais trágicos que eu já vi na tela, digno de "Crepúsculo dos Deuses". Morre um mito de forma chocante (ele conduz até com certa lógica o problema, mas a cena é forte demais, sem apelação, quando Moore lhe mostra um retrato de uma menina de sete anos morta a tiros também na mesma cidade de Columbine onde dias depois do fato, Heston havia feito um discurso).

Com duas horas de duração, o filme tem outros momentos notáveis - inclusive um desenho animado que ilustra porque os americanos tem sempre medo de alguma coisa. Michael Moore é um renovador do gênero documentário (que está cada dia melhor) e uma das poucas cabeças pensantes do cinema atual americano (ele se coloca como de esquerda e crítica duramente os liberais).

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