Amarelo Manga (2003)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2005

Nota 3

Provocou polêmica e foi muito premiado em Mostra Paralela Fórum em Berlim, Público, Ator (Chico Diaz), Montagem, Foto e Filme em Brasília, 09 Prêmios no Ceará inclusive Melhor Filme; Fotografia e Filme de estreante em Havana; Fotografia em Miami, etc.

Mas foi muito barulho por pouco, uma fita superestimada (mas que tinha um pôster altamente sugestivo com um close do sexo da atriz Leona). O filme se propõe a ser um painel da miséria humana, uma constatação de que todos só vivem para preencher suas necessidades básicas sem pensarem por um momento no outro, movidos apenas pelas paixões.

Mas isso funciona melhor como pressuposto do que no filme, com muitos personagens, todos estereótipos mal-delineados forçadamente interligados, e repleto de coisas incongruentes e absurdas (o sujeito que atira em cadáveres e os lambe, o padre amargurado cuja igreja foi fechada, o nu frontal da dona do botequim, a velha asmática que se masturba com o inalador), cuja única função visível é tornar o filme escandaloso e chocante. Mas que no conjunto acaba sendo só cansativo e insultante.

O elenco faz o que pode com os personagens rasos e sem direção, com destaque para Matheus Nachtergaele, que consegue dar alguma dimensão humana, ainda que muito negativa, a bicha vingativa e egoísta. Um personagem que parece reunir todos os defeitos e males do mundo.

Os estômagos sensíveis penarão com a seqüência do boi sendo abatido no matadouro, desagradável ao extremo, totalmente gratuita e primária como metáfora. Elogios especiais à fotografia. Fica-se com a impressão de que Walter foi fundamental na marcação de cenas e deslocamento de personagens.