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Ficha completa do filme

Drama

Angels in America (2003)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 08/12/2004
Nota 5

Para muitos, "Angels in America" é o melhor filme feito para a TV de todos os tempos. Com certeza é o melhor de 2003 (tanto que ganhou os principais Globos de Ouro e Emmy.

O fato é que "Angels in América" é um feito notável da HBO americana, que faz as melhores séries de TV ("Sex and the City", "A Família Soprano, "A Sete Palmos", "Band of Brothers" etc.), os melhores telefilmes e agora também filmes para cinema, como "Elefante" e "Anti-herói Americano".

E a HBO também se especializa em projetos que outros estúdios ou canais não tem coragem de realizar. Por isso consegue reunir um elenco como Meryl Streep, Al Pacino e Emma Thompson e um diretor como Mike Nichols ("A Primeira Noite de um Homem", "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?").

O original "Angels in America" era uma peça de Tony Kushner, apresentada na Broadway em duas partes, com quase sete horas de duração. Por isso virou um filme longo de duas partes, que poderia ser chamado de minissérie.

Embora a peça tenha sido premiada com o Tony e planejada por Robert Altman, ninguém quis arriscar levá-la para o cinema, especialmente uma peça com uma temática difícil como essa.

O texto dá uma visão da América no fim do milênio sob o governo Reagan, quando a Aids mata e nada se faz para combatê-la. Basicamente é um ponto de vista gay sobre o tema, portanto não acessível a todos -o filme não foi um grande êxito de audiência.

Antes de tudo, o filme não é realista, é quase um delírio apocalíptico. Em 1985, é como se Deus tivesse abandonado o céu. A Aids vai fazendo vítimas. Lou (Ben Shenkman) descobre que seu caso de quatro anos, Walton (Justin Kirk), está com a doença, entra em crise e o abandona, sem nenhuma consideração.

Ao mesmo tempo, Joe Pitt (Patrick Wilson), um jovem advogado mórmon e casado (sua mulher interpretada por Mary Louise Parker é extremamente perturbada e tem visões), descobre-se gay e se sente atraído por Lou. Mas o chefe de Joe é Roy Cohn (Al Pacino), um homem poderoso e conservador, que nunca admite ser homossexual nem que está morrendo de Aids (o personagem existiu na vida real e é de arrepiar).

No final da primeira parte, Walton recebe uma visita de um anjo do céu (Emma Thompson, que faz também a enfermeira dele e uma sem-teto) que anuncia o apocalipse. O interessante é que tudo faz sentido na parte final, quando o tom é menos trágico. Até porque Nichols percebeu que era preciso também dar prazeres ao espectador, permitindo que Meryl Streep, por exemplo, fizesse diversos papéis. Ela não é apenas a mãe religiosa de Joe, mas também faz o fantasma de Ethel Rosemberg (pois Roy Cohn foi o responsável por ela ter sido executada), uma sem-teto e até um velho rabino.

Esse tom teatral faz com que outros atores do elenco também repitam personagens (Justin Kirk, além de Walter, é um homem no parque que transa com Lou; Jeffrey Wright faz o enfermeiro, o amigo e um anjo etc.).

Utilizando efeitos digitais de computação, o filme consegue tornar o clima fantástico perfeitamente convincente. Mas sem heróis. Cohn é uma das figuras mais terríveis já vistas num filme, e Al Pacino, está em plena forma em seu primeiro telefilme. Mas o elenco é tão eficiente, tão forte, que é difícil ficar fora da trama, até porque revela um jovem ator muito promissor na figura de Patrick Wilson ("The Phantom of the Opera", de Joel Schumacher).

"Angels in America" é mais uma experiência para ser vivenciada do que contada. Se fosse para os cinemas, certamente estaria entre os premiados do Oscar.

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