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Ficha completa do filme

Comédia

Os Normais (2003)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2004
Nota 1

A série da Globo foi das melhores coisas na TV nos últimos tempos. "Os Normais", mesmo com certas apelações ainda era um oásis de inteligência e quem quiser comprovar isso, basta checar na primeira edição de episódios em DVD. Esqueça o segundo, porque os episódios são bem mais fracos, parecem ter sido feitos às pressas, quando ficaram surpreendidos com o êxito. De qualquer forma, a expectativa foi grande com o filme, que acabou se tornando um sucesso de bilheteria.

O resultado fica num meio termo, começa muito mal, mas vai melhorando e termina de forma simpática, provocando algumas risadas. Não é tudo que se podia esperar, mas já se viu piores. Como se pode comprovar pelo release, os criadores do filme discutiram muito sobre que caminho iriam trilhar, transcrito nesta edição em DVD, qual seria o tom exato para o cinema. Não acertaram muito.

Podiam ter evitado Evandro Mesquita (que funciona principalmente nos palavrões - ninguém melhor do que ele para dizê-los com naturalidade e verdade) que já tinha feito outro personagem na série. Parece-me que Marisa Orth também já tinha aparecido. E para o fã, isso é meio estranho, quebra a continuidade.

O que eu achei mais grave é não saber dosar o naturalismo. O filme começa com um belo plano externo, em que o casal está de costas conversando com um amanhecer. Depois a gente vai acompanhar como os dois se conheceram, em circunstâncias curiosas. Ambos estavam se casando com pares diferentes, só que no mesmo dia, mesma Igreja, quase no mesmo horário: Luiz Fernando Guimarães (Rui) com Marisa Orth (Martha) e Fernanda Torres (Vani) com Evandro Mesquita (Sérgio).

Não gosto de certas opções. Primeiro quando Rui bate na convidada que chora (bate com força, o que é de mau gosto no mínimo). Depois quando Vani aparece batendo no segurança da festa (outra coisa de desenho animado que fica esquisito). Mas grave mesmo é quando Rui instrui a amiga para brigar pelo buquê para ganhar aposta e a outra, a mesma que apanhou cai no chão sangrando muito. Deveria ser como desenho animado: Quando tem sangue, tem dor, vira real, provoca pena e espanto. Por isso, está totalmente fora de tom. Por essas e outras (como o fraco elenco de apoio, com figuras coadjuvantes mal desenvolvidas), que a fita foi tropeçando na primeira parte.

Fica-se na expectativa de melhorar e isso finalmente acontece quando eles se reencontram porque moram em apartamento um em frente ao outro (tudo isso é feito em estúdio, sem maiores problemas, até contribui para o clima). Parece que o ponto de partida da história seria a ação de Vani, que irritada com a infidelidade do noivo na noite anterior, sai para a rua e promete se entregar para o primeiro homem que aparecer. Que acaba sendo Rui (ainda que ele chegue com a noiva).

Começa assim uma série de confusões e qüiproquós, algumas absurdas, algumas femininas (uso de absorventes) que tem a cara da autora Fernanda Young. Mas em geral o filme vai engrenando. Até porque vira comédia de Boulevard, meio teatral, permitindo que o casal Fernanda e Luiz Fernando volte a ficar a vontade, naquele jeito de inter-relação que o público gosta.

Utilizando trilha musical com várias canções conhecidas (e até uma nova de Rita Lee), o filme foi rodado em alta definição, o que em nada atrapalha. Ao contrário, isso resulta num trabalho em cima da fotografia que fica mais matizada e variada. É verdade que poderia ser mais engraçado, mas parece que a intenção foi também fazer um filme romântico, meio "Harry e Sally, Feitos um Para o Outro". Depois desta, saiu uma edição especial com Making Of e o episódio "Motivos Normais"

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema [resenha-data-cadastro]
Nota 4

A série de TV mais inovadora, divertida e bem sucedida do começo do século 21. Acho difícil alguém ainda não saber de "Os Normais" e não ter virado fã. Mas é ótimo assisti-lo em ordem, numa só sentada. Na TV, de relance, tinha lhe cobrado maior realismo e menos chanchada. Erro meu.

Desde o primeiro programa eles já estabelecem um estilo novo de narrativa. De pura farsa, diria mesmo original. Lembra "Comédia da Vida Privada", mas nada mais além disso (quero dizer que não sinto influências externas, é uma linguagem desenvolvida por eles mesmos, o núcleo do Guel Arraes). E não poderia ter sido feita por ninguém mais do que Fernanda Torres e Luiz Fernando Guimarães, de tal maneira que é impossível dizer onde começa o texto de Alexandre Machado e Fernanda Young e começa a improvisação.

De qualquer forma, é tudo meio exagerado, num tom acima da realidade mas ao mesmo tempo é comédia de situações e de costume, sem obrigação de contar uma história (e nisso é o caso mais bem sucedido que eu conheço no Brasil). Basicamente os problemas de um casal de noivos, que passam por diversas dificuldades (um casal que pensa em fazer Swing, os pais dele, a amiga ciumenta, brigas). O mais incrível é que eles conseguiram criar um universo próprio, com regras e comportamentos, com que a gente se acostuma e passa a cobrar. Também me surpreendeu o trabalho do diretor Alvarenga Jr, que nunca me impressionou como realizador de fitas de "Os Trapalhões" ou de "Zoando na TV" (com a Angélica).

Para se ver como não se deve ter preconceitos, agora fica claro que o moço é talentoso. Também a edição em DVD contribuiu para o deleite geral. De qualquer forma, que venham mais "Normais" e outros do mesmo gabarito. E como é Região Zero, é ótimo presente para brasileiro que mora no exterior. Outra boa notícia é que a segunda temporada da série, está sendo toda rodada em HDTV (TV de alta definição), justamente para apróxima edição em DVD. A cotação só não é cinco estrelas porque esta edição, na verdade, era para ser experimental, para ver qual a aceitação do público, por isso são apenas 6 episódios e não a temporada completa, o que nos deixa com gostinho de "quero mais". São eles, todos do primeiro ano da série: "Os Normais"; "Normas Do Clube"; "Um Dia Normal"; "Implicância É Normal"; "Fazer As Pazes É Normal"; "Complicar É Normal".

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