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Ficha completa do filme

Drama

A Queda (2004)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 07/09/2005
Nota 1

Há pouco tempo foi exibido no Brasil o documentário "Eu Fui a Secretária de Hitler" (2002), que consistia basicamente em uma série de entrevistas com a recém-descoberta Traudl Junge, uma mulher da Bavária que serviu como secretária do ditador Adolph Hitler nos últimos tempos de seu governo, já na decadência e fim da Segunda Guerra. O filme não era mais do que uma sucessão de depoimentos (um deles encerra este "A Queda"), mas, por ser árido, foi muito pouco assistido.

Foi esse filme que deu origem a "A Queda", adaptação em superprodução que foi grande sucesso de bilheteria na Alemanha e indicado ao Oscar de filme estrangeiro. Não há duvida de que se trata de uma história importante, já que pela primeira vez temos detalhes dos últimos dias de Hitler e do nazismo porque Trauld estava no bunker e foi testemunha de tudo. Por outro lado, é visível que ela faz tudo para não se comprometer, dizendo que era ingênua e confusa (o que soa altamente inconvincente) e provavelmente inventando detalhes que "não lhe sujassem as mãos".

Além disso, temos que acreditar piamente no que ela conta, já que não há outras testemunhas. Também faz pensar na incompetência dos pesquisadores que levaram 50 anos para encontrá-la pouco antes de sua morte, em 2002. O lado ruim do projeto é que ele foi entregue a um diretor medíocre, que não sabe escolher ou dirigir atores (alguns deles estão péssimos, a maioria compromete, e somente o veterano Bruno Ganz, como Hitler, é que faz o papel com dignidade, sem cair em caricaturas).

O diretor Oliver Hirschbiegel fez um filme com estética de telefilme de TV européia. De qualquer forma, o filme é banal como cinema, até mesmo como narrativa, já que prossegue por quase meia hora depois da morte de Hitler, mas nem sempre se preocupa em mostrar apenas o que a secretária viu e ouviu.

Apesar disso, "A Queda" é muito interessante _e importante_ como reprodução da história. Não há qualquer lógica em boatos de que o filme daria uma visão humana de Hitler, portanto amenizando seus crimes. Ao contrário, ele é mostrado como um velho de 50 e poucos anos, decadente, com mal de Parkinson, completamente cruel e sem piedade, com delírios e incapaz de enfrentar os fatos e a derrota. E principalmente insiste em se matar e mandar todos os seus auxiliares próximos a fazer o mesmo, sob pena de serem considerados traidores.

Basicamente o filme é um estudo sobre o fanatismo, principalmente na figura da Srª Goebbels (feita por péssima atriz), que mata friamente todos seus filhos, mas tem uma ataque histérico e pede para o ditador fugir. Fanatismo que reflete nos cidadãos que estavam na rua matando a esmo os que consideravam traidores e desertores, mesmo quando o exército russo estava a poucos metros da cidade.

Um dos momentos mais fortes do filme, além do orgulho que Hitler sente em ter matado tantos judeus, é o fato de que os nazistas chegaram ao poder eleito pelo povo, e não por um golpe de Estado. Ou seja, já que o povo alemão escolheu esse tipo de governo, agora teria de pagar por isso.

No filme, Hitler é um sujeito patético, louco (mas não histérico), iludido e amado fanaticamente por seus asseclas, que aceitam tudo sem discussão. Talvez seja isso o que mais impressione: ninguém ousa questioná-lo, enfrentá-lo, desmascará-lo. É uma ilusão coletiva que nos deixa pensando em outros fanatismos atuais, como os mulçumanos fundamentalistas.

Como o ser humano é frágil e pode cair em situações como essa? E com freqüência assustadora! "A Queda" é uma notável e imprescindível lição de história.

Edição de aluguel traz apenas trailers.

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