O drama romântico "Dança Comigo?" fez bastante sucesso no Brasil, talvez porque aqui Richard Gere seja um campeão de bilheteria. Ou porque quase ninguém viu o original japonês homônimo de 97.
Qualquer comparação é triste. O primeiro era melhor, mais humano, sincero e contextualizado. A repressiva sociedade japonesa serve muito melhor para explicar como o herói se "soltaria" numa aula de dança de salão. Além disso, a personagem da mulher dele não era tão desenvolvido como nessa nova versão nem havia uma estrela premiada como Susan Sarandon, que, por sinal, parece dar novos significado e vida para as mulheres de 50, que ainda podem ser sexy e atraentes.
Mas o pior dessa versão é o absurdo de fazer um filme com Richard Gere e Jennifer Lopez sem que haja um romance entre eles, deixando tudo reduzido a uma mera dança (e não especialmente boa).
Co-produzido pela Miramax, o filme começa como a versão original, com o herói tomando um metrô (ou trem) e olhando a figura da moça (Jennifer) na janela do curso de dança. Chicago foi escolhida por ter um trem urbano assim, mas o personagem ficou com filhos mais velhos (que aparecem e somem) e com uma presença muito forte da mulher, que pouco acrescenta ao filme.
A maior modificação que houve em "Dança Comigo?" foi a trilha sonora, que incorporou justamente a canção "Shall We Dance" (título americano do filme japonês), de Rodgers e Hammerstein, que foi escrita para o musical "O Rei e Eu", e aparece aqui em diferentes versões. A nova versão também mostra o universo dos concursos de dança de salão, mas de forma caricata, lembrando o pioneiro no assunto, o australiano "Vem Dançar Comigo".
Ou seja, o filme dirigido pelo fraco Peter Chelson ("Escrito nas Estrelas", "Ricos,Bonitos e Infiéis") é fácil de ver, graças a um elenco divertido: tem os três colegas de classe (um deles é interpretado pelo particularmente talentoso Bobby Cannavale, de "O Agente da Estação"), a dona do lugar (a veterana atriz da Broadway Anita Gilette), o colega de escritório enrustido (um papel ingrato para Stanley Tucci) e um papel muito bom, o da veterana Bobbie desperdiçado numa fraca atriz chamada Lisa Ann Walter.
Gere continua inexpressivo, só que mais velho. Jennifer tem muito pouco a fazer, mas é uma figura interessante (claro que seu traseiro, o que ela tem de mais notável, é bem explorado), e Sarandon joga o charme.
O filme custou US$ 40 milhões, rendeu US$ 57 milhões nos EUA; não é um fracasso comercial. E foi abraçado pelo público feminino, portanto terá longa carreira ainda em vídeo e DVD.