UOL Entretenimento Cinema
 

Ficha completa do filme

Comédia

Melinda e Melinda (2004)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2006
Nota 3

Deve ser um outro caso de alucinação individual ou coletiva. Você resolve. Disseram que este filme é a redenção de Woody Allen e sua volta a forma (acho que confundiram com o posterior, "Match Point").

Mas não foi esse o filme que eu vi. Nem o que se apreende no exterior, onde a fita foi enorme fracasso (não chegou a quatro milhões de renda nos EUA), também massacrado pela crítica. Alguém errou ou vimos o filme diferente.

Aqui consegue fazer um de seus piores trabalhos, a tal ponto que fica difícil entender a história. A proposta do filme é contar a mesma história de duas maneiras diferentes, como drama e como comédia. Isso a partir de uma mesa de bar onde um grupo de intelectuais procura mostrar que tudo na vida pode ser encarado de maneira diferente, como tragédia ou comédia. E ilustram isso com a mesma situação, com ligeiras mudanças.

Mas tudo é tão mal contado na tela, que por vezes você não consegue diferenciar o que é para rir ou para chorar. Porque nenhuma das duas versões tem qualquer graça. Às vezes, a única indicação é o coitado do Will Ferrell tentando fazer uma imitação descarada e infeliz do jeitão de Allen (que não está no elenco).

O que eu vi foi um exercício de estilo inútil e mal feito, realizado com um orçamento mínimo e tudo aquilo que antes parecia estilo, mas que Allen recusa evoluir: mesmo estilo de trilha musical, letreiros, interpretação, sendo que este é o pior elenco com que já trabalhou, praticamente todos são desconhecidos ou quase.

E a figura central, a australiana Radha Mitchell, de "Em Busca da Terra Nunca", que tem uma figura interessante, não consegue deixar sua marca mesmo sendo as duas Melindas. O exercício envolve dois casais a partir do mesmo ponto de conflito: uma antiga amiga que chega inesperadamente na casa de um casal.

No drama, ela chega numa noite de chuva, e encontra a antiga amiga (Chloe) que vive com um ator alcoólatra (Jonny). Na comédia, ela é vizinha do casal, onde a mulher (Peet) é uma diretora de cinema que procura financiamento e o marido também ator desempregado.

Nos dois casos, tudo vai terminar em adultério. Digo isso com tranqüilidade porque já fui admirador de Allen e fico triste em constatar sua decadência. Provocada pelo excesso de trabalho (um filme por ano acaba provocando um resultado irregular, vai faltando inspiração) e por sua recusa de mudar ou evoluir, refazendo sempre as mesmas situações e personagens.

Era melhor voltar a ser seletivo, polir mais as piadas. Enfim, se quiserem tirar a dúvida, o risco é de vocês. Mal consegui rir uma ou duas vezes na fita. O que se pode elogiar é o fato dele insistir em fazer os filmes que gosta e que deseja, sem fazer concessões de qualquer espécie.

Compartilhe:

    Siga UOL Cinema

    Sites e Revistas

    Arquivo