"O Grito" é um dos filmes que Michelangelo Antonioni fez antes de se consagrar com a trilogia do tédio (Aventura, Noite e Eclipse) e que chegou ao Brasil com certo atraso. O filme é considerado a obra que deu uma virada na carreira do diretor italiano, iniciando a grande fase do cineasta.
Na verdade, embora ele já tivesse domínio técnico, a temática rural de "O Grito" é diferente de sua obra posterior, mesmo em se tratando de solidão, relação entre casais e falta de comunicação.
Lançado em 1957, numa época em que os atores americanos iam procurar trabalho na Itália, o filme é estrelado pelo famoso vilão de Hollywood Steve Cochran (morto em 1965) e por Betsy Blair, então mulher de Gene Kelly.
Como os filmes eram dublados em italiano posteriormente, o fato de os atores falarem inglês não foi um problema. Aliás, foi durante a dublagem do filme que Antonioni conheceu a jovem Monica Vitti, que faz uma frentista do interior, numa composição surpreendentemente humana. Os dois se apaixonaram, e ela virou musa do diretor por muitos anos.
Menos complexo e lento que filmes posteriores, "O Grito" tem longas caminhadas, marca registrada do diretor. Quem faz a infiel Irma é Alida Valli, estrela italiana de "O Terceiro Homem".
O clímax é justamente seu retorno ao alto de uma torre. Impecável narrativa, integrando paisagem e personagem. O genial Gianni di Venanzo ganhou prêmio do Sindicato dos Fotógrafos por suas imagens em preto e branco.