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Aventura

A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005) (2005)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 01/01/2005
Nota 4
A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005)

A versão original homônima de 1971 foi um fracasso em nossos cinemas, mas acabou virando cult quando foi descoberta dublada nas Sessões da Tarde da Rede Globo. Assim se tornou querida e admirada por toda uma geração de crianças que hoje mantém uma memória afetiva do filme, que na verdade, tem uma direção de arte de gosto duvidoso, uma produção feia e pobre e um ritmo lento, com músicas desnecessárias.

Sua maior qualidade, fora a história propriamente dita, é a interpretação que Gene Wilder deu ao personagem do dono da fábrica, Willy Wonka, dentro de seu estilo nervoso e neurótico. Sem esquecer a canção "Candy Man", que virou sucesso cantada por Sammy Davis Jr.

Por tudo isso, esta refilmagem de Tim Burton (ele errou quando tentou fazer outra refilmagem antes, o tolo "Planeta dos Macacos") é melhor que o original, porque ao mesmo tempo é mais fiel ao livro de Dahl (que por sinal, odiava aquela versão. A viúva dele assina como co-produtora aqui) e também fiel ao estilo e temática do diretor.

Arrisco dizer que é o melhor filme dele desde os outros que fez com Johnny Depp, "Ed Wood" e "Edward Mãos de Tesoura". Um exemplo são as simpáticas referências que contém a filmes como ao monolito de "2001", a cena do chuveiro de "Psicose", "A Mosca", ao "Show de Oprah" e aos vários filmes do próprio Burton.

Por outro lado, tem momentos que são sem dúvida dark, por vezes macabros (por exemplo, antropofagia), principalmente na criação que Depp faz do dono da fábrica. Não achei que tivesse algo a ver com Michael Jackson, como se cogitou na época do lançamento (embora Burton tenha dado um banho de computador, ou seja, ele limpou as rugas e traços de Wonka e das crianças, deixando-as quase como bonecos).

Mas certamente o personagem tem os traços de um neurótico compulsivo, com problemas com seu pai e relações afetivas (nesta versão, não há a história da bala que serve de teste de fidelidade, comprovando que os meninos não são espiões).

O roteiro de John August (de "Panteras I e II", "Peixe Grande") tem a inteligência de seguir quase ao pé da letra o texto de Dahl (que já era bizarro o suficiente), apenas expandindo em certos detalhes (como ele encontrou os Oompa-loompas) e principalmente mostrando muito bem a relação com o pai dentista que detestava doces, que é interpretado pelo grande Christopher Lee (e só a aparição dele já diz tudo, afinal é raro termos um ícone do terror vivo como ele).

Assim o roteiro responde certas perguntas (por exemplo, por que Charlie não vende o cartão premiado, já que a família é pobre e precisa tanto de dinheiro). E depois, ao final se estende para ter uma conclusão ampliada e mais bem resolvida. Mas em praticamente tudo Burton acertou, inclusive na concepção dos empregados Oompa-Loompas (que é sempre feito por uma mesma pessoa, Deep Roy e que acaba interpretando meio como lounge e show, as únicas canções da fita).

Aliás, pela concepção visual do filme já se sente que o espetáculo é perturbador, não é um mero filme para crianças. E também pela entrada de Wonka, por trás de um cenário em chamas. Seguindo o livro, Charlie é um garoto pobre, louco por chocolates, que vive com os pais (Helena Bonham Carter, atual mulher de Burton faz a mãe) e os quatro avôs (todos entrevados na cama).

Até que por uma série de lances, ele é selecionado para uma visita à fábrica de chocolates, junto com outras quatro crianças. Tudo é uma fábula muito clara, que a moral da história enunciada com toda clareza, culpando os pais por mimarem os filhos (deixando-os gordos ou insuportáveis) ou os educarem da maneira errada (para serem por demais competitivos) ou assistirem televisão (com exagero).

Vejam que milagre, este é um filme com moral. Mas não é fácil nem simples. É complexa como a vida. Com excelente trilha musical de Danny Elfman, fotografia do francês Philipe Rousselot, o filme interessa crianças e adultos, fãs de Burton e da história. Vale a pena assistir.

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