Beijos e Tiros (2005)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 09/05/2006

Nota 1

Shane Black foi um dos roteiristas mais bem pagos dos anos 80 e 90. Primeiro com o roteiro de "Máquina Mortífera" (1987), depois com "O Último Boy Scout" (1992), "O Último Grande Herói" (1993) e "Despertar de um Pesadelo" (1996), todos filmes de ação. Mas, depois do fracasso deste último, Shane abandonou o cinema por quase uma década. Retorna agora com seu primeiro filme como diretor, usando um título emprestado de um livro de da crítica de cinema Pauline Kael.

O problema do filme, exibido fora da competição em Cannes 2005, não é o elenco, que funciona bem, mas o excesso de esperteza da narrativa, que é pura metalinguagem, cheio de truques e sacadas. Como, por exemplo, dividir o filme em capítulos (inspirados em títulos de obras do escritor Raymond Chandler, mestre do film noir que o filme pretende também emular). Há também um narrador _Robert Downey Jr, o protagonista_ que interfere na ação, o que é bem divertido, mas também um problema, porque ele distancia o espectador da história.

Ainda assim, a fita é sempre criativa e interessante. Começa de forma curiosa, mostrando um ladrão que, depois de um golpe ter falhado, tenta se esconder e acaba num teste para atores no qual é aprovado e mandado para Hollywood para novo teste (o subtexto é qualquer um pode ser ator), despistando a polícia.

Em Los Angeles, com certo clima de "Colateral", ele encontra a garota de seus sonhos (Michelle Monaghan), o que é bastante complicado e o faz se envolver também com Gay Perry (Val Kilmer), detetive veterano e gay assumido, enquanto mortes e atentados se seguem. Repleto de citações e brincadeiras, o filme é indicado para uma platéia especial que conheça o gênero e tem vocação para ser cult. E que aprecie seu narcisismo exibicionista, que se diverte em bancar inteligente e safado.