Originalmente nos cinemas tinha 116 min. Mas já está se tornando tradição lançar em DVD versões estendidas, sem censura ou cortes. Ainda mais em comédias meio pornochanchadas. A diferença é que esta aqui foi considerada a melhor comédia do ano nos EUA, entrando na lista de vários críticos e consagrando o ator Carell.
Não teve tanta repercussão no Brasil, porque os atores eram menos conhecidos, em particular a figura central (o pôster, convenhamos, também era muito ruim). É um certo Steve Carell, que você verá como o tio na versão de "A Feiticeira" para o cinema, que estrela a versão americana da série de tevê inglesa "The Office" e esteve em papéis pequenos em "Melinda e Melinda", de Woody Allen e "O Âncora", com Will Ferrell. Ou seja, você com certeza não se lembra da cara dele. Que por sinal, não é assim tão engraçada (como o Mr. Bean, que só basta olhar para se rir).
Carell é daqueles humoristas discretos, que fazem muito pouco, sem caretas. Mas que podem funcionar quando se constrói um filme em torno dele, como foi o caso deste projeto de um certo Judd Appatanow, que produziu, escreveu e dirigiu (estreando) a fita (Juddy tem uma longa carreira em séries cults como "Ben Stiller Show", "The Critic", "Larry Sanders Show", "Freaks and Geeks"), mas que até agora ainda não tinha estourado.
É curioso notar como os valores estão deturpados na América de Bush, já que o filme está repleto de palavrões (muitos e extensos) mas não tem nudez, só simulação de sexo. Tem piadas fortes, algumas sacadas maliciosas (outras bem explícitas), mas nunca mostrava grande coisa.
E no fundo não precisava ganhar estes 17 minutos, que quebram com seu ritmo. Mas eu recomendo dar uma chance a esta fita que, se você conseguir embarcar, pode ser muito divertida.
Ela começa bem devagar, aliás, como o próprio personagem. Que é um nerd, que trabalha no estoque de uma loja de equipamento eletrônicos e que se dedica a colecionar bonecos e video games. Chegou aos 40 anos e nunca teve uma relação sexual, é virgem.
E isso acaba se tornando um problema maior para os colegas dele, que passam a fazer tudo para lhe ensinar a arte da paquera, da conquista, do comportamento com as garotas (tem um pouco de "Hitch"). Só que o filme prefere conquistar o público feminino, inventando um romance para ele com uma mulher (Catherine Keener, que é uma jovem avó, com três filhos). Mas para quem ele também não tem coragem de contar que nunca transou.
A piada única, sem dúvida é repetitiva, mas não incomoda porque em volta dele existem personagens curiosos (e afetuosos) e o roteiro sabe criar situações (como quando ele tenta tirar o pêlo do peito, o que foi feito para valer). E dá para acreditar perfeitamente na sinceridade de Carell.
Se faltava alguma coisa para o filme me conquistar, ele o consegue ao final com uma resolução deliciosa e muito simpática (que não vou revelar, mas para minha geração foi tocante). Tomara que o público descubra uma das poucas boas comédias de 2005.