O Bom Pastor (2006)

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 26/06/2007

Nota 1

Francis Ford Coppola é um dos que assinam como co-produtores deste filme longo que foi esquecido pelo Oscar (indicado apenas para melhor direção de arte) e rejeitado pelo público americano. Mesmo assim, levou um prêmio especial para todo o elenco no Festival de Berlim, pela "notável contribuição artística". Foi uma forma delicada de homenagear o diretor Robert De Niro. Ele conseguiu reunir um elenco excepcional, incluindo até mesmo Joe Pesci, que saiu de uma aposentadoria forçada, por estar muito doente, para fazer uma ponta.

O fato, porém, é que De Niro não tem muita experiência na direção.
Fez apenas um filme anteriormente, o razoável "Desafio no Bronx", de 1993. Fica difícil justificar o interesse por um assunto tão árido e pouco popular numa época em que a Guerra do Iraque e a falência do governo George W. Bush provocam denúncias de abusos em todos os órgãos governamentais americanos. Ou seja, embora este seja o projeto de estimação de De Niro, no qual ele trabalhou durante cerca de dez anos, não parece o momento certo para elogiar aqueles que criaram o órgão de espionagem oficial, a famigerada CIA, talvez mais lembrada por sua incompetência do que por seus feitos.

Este "O Bom Pastor" traz uma história arrastada e centrada na figura de um burocrata, certamente não o mais eletrizante dos heróis, um tal Edward Wilson (Matt Damon, correto como sempre, em papel previsto para Leonardo DiCaprio). Em 1961, ele tem problemas ao se envolver no episódio da Baía dos Porcos, a desastrada tentativa americana de invadir Cuba. Volta-se então, num longo flashback, para o início de sua história, em 1939, quando era aluno da Faculdade de Yale e aceita entrar para uma sociedade secreta -- de hábitos nojentos como submeter os calouros a uma luta na lama, sem roupa, e depois à urina dos veteraos.

Mas são esses contatos que, durante a Segunda Guerra, o levam para um trabalho em Londres, onde trabalha com espionagem. Mais tarde ele se casa com uma bela mulher rica, um papel ingrato para Angelina Jolie. Mas o filme não explora muito a vida pessoal do herói, deixando o fracasso do casamento por conta do desinteresse do herói.

"O Bom Pastor" não chega a cansar por causa do seu excelente elenco, da cuidadosa recriação de época, de alguns momentos mais curiosos. Nem por isso se torna emocionante. A história, embora inspirada em fatos reais, traz tudo disfarçado: Damon seria uma variação do criador da CIA, James Jesus Angelton, o traidor seria o espião Kim Philby, o militar feito por De Niro seria o general William Donovan e assim por diante.