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Ficha completa do filme

Drama

Batismo de Sangue (2007)

Resenha por Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema 13/11/2007
Nota 1

É muito complicado lidar com tortura num filme. Ainda mais num momento com este, em que os americanos praticamente institucionalizaram seu uso como prática comum e aceita. E em que o cinema de terror a banaliza numa série de filmes (tipo "Hostel", "Wolf Creek") que torna chique o sadismo e aceitável qualquer tipo de tortura, vista como diversão. Diante disso, temos um filme como este, que retrata fatos históricos e verdadeiros e que optou por mostrar cenas de tortura de forma bastante detalhada - o que pode torná-lo insuportável para muitos que seriam seu público alvo.

Essa foi uma opção do diretor mineiro Helvécio Ratton, que entende do assunto, porque teve participação ativa na luta armada, tendo que fugir para o Chile. Isso explica porque fez um filme muito sóbrio, praticamente sem trilha musical (ao menos melódica e sempre esparsa), em cores de terra, sombrias como se fossem mesmo os anos de chumbo. Muito diferente por sinal do resto de sua obra.

Infelizmente, não optou por qualquer imparcialidade. Todos os personagens são dogmáticos, têm absoluta certeza de que a luta armada é o único caminho e vivem discursando palavras de ordem. Quando sabemos que não era bem assim. Apenas um protagonista, na sua loucura, tem a lucidez de discutir vagamente o projeto, que não contava com o apoio do povo. Todos os outros agem como paus mandados, seguindo cegamente o que lhes mandam, sem maiores traços de dúvida ou humanidade. Por outro lado, o maior vilão, chamado por seu nome verdadeiro (Fleury), foi feito por Cássio Gabus Mendes de forma exagerada e caricata, por vezes ridícula. Devia ter feito justamente o oposto: quanto mais real e matizado, maior teria sido o impacto.

O filme se propõe a contar a história da participação da Igreja no movimento de apoio a Marighella, por parte dos dominicanos. O roteiro fixa-se em cinco deles, Beto (Daniel de Oliveira), que é jornalista, Oswaldo, Fernando, Ivo e Tito. Este último deveria ser por justiça o protagonista, porque tem a história mais dramática. Submetido a torturas, ele não resiste e comete suicídio quando num exílio na França em 1974 (o filme já começa com essa seqüência), atormentado por lembranças e culpas. Falta foco à narrativa, que nunca deixa Tito tomar o lugar central.

O filme começa com uma sucessão de fatos e informações e prossegue num ritmo lento, fixando-se demais nas cenas de torturas, que poderiam ser sugeridas (às vezes é melhor esconder e deixar a gente sentir o efeito do que explicitá-las). E, por vezes, elas são insuportáveis. Pode ser que tenha sido essa a proposta, mas isso também torna o filme penoso. Também não ajudam as interpretações irregulares. Daniel continua sua dolorosa busca de fazer esquecer Cazuza, mas o elenco de apoio é decente, e o filme é segurado pela sensível presença de Caio Blat, que mergulha com toda alma na figura de frei Tito. O filme então resulta muito digno, sério, contando uma história que o público talvez não queira ouvir.

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