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Ficha completa do filme

Comédia

A Mente que Mente (2008)

Resenha por Márcio Ferrari

Márcio Ferrari

Da redação 07/01/2011
Nota 1

Admiração é um sentimento tão misterioso quanto qualquer outro, e se torna ainda mais misterioso quando o alvo da admiração é, em si mesmo, um mistério. ''A Mente que Mente'' se baseia numa relação assim, que existiu de fato entre o diretor Sean McGinty e um adivinho de auditório para quem trabalhou como assistente, George Joseph Kresge Jr, conhecido como ''Amazing George''.

No filme, o adivinho, que só aceita ser chamado de ''mentalista'', é chamado de o Grande Buck Howard (John Malkovich), e o assistente é Troy Gable, um rapaz que, contrariando a vontade do pai, abandona a faculdade de direito e aceita o novo emprego por mera conveniência. Sua intenção é tornar-se escritor. O ator que faz este personagem é Colin Hanks, filho de Tom Hanks, que produziu o filme e tem uma participação pequena justamente no papel de seu decepcionado pai.

Uma das graças de ''A Mente que Mente'' é a aura lendária que o Grande Buck Howard mantém em torno de si, apesar de já não ser mais o mesmo ''entertainer'' que apareceu 61 vezes no programa de entrevistas de Johnny Carson. Na verdade, plateia garantida ele só encontra agora na cidade de Cincinatti. Os fãs incondicionais se resumem a um casal excêntrico (os divertidos Debra Monk e Steve Zahn). E o ''famoso'' George Takei (o ator que fazia Sulu na série ''Jornada nas Estrelas'') já não é seu melhor amigo.

Howard, é claro, quer voltar aos tempos de glória, entre outras coisas fazendo 900 (na realidade dezenas) de moradores de Cincinatti reunidos caírem no sono num estalar de dedos. Uma relações-públicas (Emily Blunt) se reúne a Gable no meio do caminho para ajudar a salvar a carreira de Howard. Naturalmente, os dois logo formam um casal.

Embora o título em português sugira um caso de charlatanice, os supostos truques de Howard se mantêm um enigma tão grande quanto ele mesmo. Sempre atrás da cortina da coxia, Gable não é um aprendiz de mentalista, mas alguém que zela pela reputação do Grande Buck Howard enquanto ele apresenta seu mais famoso número de adivinhação: descobrir onde está o dinheiro de seu cachê, que pediu para ser escondido no meio da plateia. É essa história de devoção e amadurecimento que o filme conta com uma habilidade acima da média.

O enredo lembra ''O Rei da Comédia'' (''The King of Comedy'', de Martin Scorsese) e ''Um Cara Muito Baratinado'' (''My Favorite Year'', de Richard Benjamin), ambos do início dos anos 80. Só que, em vez de desmistificar o show business, explora e homenageia justamente seus jogos de aparências. Tão incompreensível no palco quanto na vida, Howard às vezes rompe a falsa fleuma para ter ataques homéricos de estrelismo, destratando as pessoas à sua volta, mesmo já não estando em condições de arriscar o que lhe resta de prestígio.

John Malkovitch faz o papel com visível prazer, explorando os bordões e marcas registradas do ''mentalista'', como o aperto de mão exageradamente vigoroso e o hábito de dizer ''eu adoro esta cidade'' onde quer que ponha os pés. Não é difícil entender o fascínio que ele provoca em Gable, papel em que Colin Hanks, com muita discrição, fornece um contraponto perfeito.

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