À Procura de Eric (2009)

Edilson Saçashima

Da redação 15/03/2010

Nota 1

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Imagine se o jogador Adriano, do Flamengo, ou Ronaldo, do Corinthians, se tornassem conselheiros para a vida afetiva de um de seus fãs? O cineasta inglês Ken Loach conseguiu transportar essa ideia para as telas, mas não com os craques brasileiros. No lugar deles, o papel de grilo falante coube ao ex-jogador francês de futebol Eric Cantona. O antigo atacante do Manchester United, autor de grande jogadas e gols, mas com um temperamento complexo, tornou-se a ''voz da sabedoria'' para o personagem principal de ''Á Procura de Eric'', filme que chega ao DVD pela Califórnia Filmes.

Saber que o próprio atleta interpreta a si mesmo e assina a coprodução do filme pode levantar suspeitas sobre as reais intenções do trabalho cinematográfico. Mas ''À Procura de Eric'' não cai na armadilha de ser uma ponte para promover Cantona. Nas mãos de Loach, conhecido por seus dramas sociais como ''Terra e Liberdade'', o ex-astro dos ''diabos vermelhos'' torna-se porta-voz da solidariedade.

É quando Cantona revela ao protagonista Eric, um carteiro divorciado de meia-idade, que sua principal jogada foi um passe e não um dos inúmeros gols que marcaram sua carreira, que a vida um tanto patética e trágica de Eric começa a tomar novos rumos.

O ex-jogador sugere que o passe seja um voto de confiança ao companheiro. O pensamento ''cantoniano'' resume a mensagem humanista e em defesa da solidariedade que Loach tradicionalmente desenvolve em seus filmes.

Cantona ainda serve como uma espécie de síntese da cultura da classe média baixa inglesa, tantas vezes retratadas por Loach. É em um mundo dominado por futebol, cervejadas em bares e referências populares que o carteiro Eric está inserido. Um exemplo disso é a resposta para um dos dramas vividos por Eric através do grupo de torcedores. Sem dar detalhes para não estragar a surpresa, em ''À Procura de Eric'', a solidariedade aparece na forma de uma cômica torcida organizada que irá vingar o amigo em apuros.

No fim, o que fica é um retrato humanista sobre a classe média baixa inglesa com boas pitadas de humor e um toque trágico, tipicamente loachiano. Uma dica: durante os créditos finais, o cineasta apresenta um trecho de uma entrevista real de Cantona em que o ex-jogador dispara um de seus pensamentos filosóficos.