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Ficha completa do filme

Drama

London River - Destinos Cruzados (2009)

Resenha por Sérgio Alpendre

Sérgio Alpendre

Da redação 08/04/2011
Nota 3

"London River - Destinos Cruzados" possui uma história tocante e com potencial para fazer pensar e emocionar o mais empedernido dos durões.

Temos o comentário social, o momento de inquietação política, o preconceito racial, a solidariedade de um povo e a ineficiência das instituições para emoldurar essa história e imprimir a ela uma atualidade flagrante.

Brenda Blethyn e Sotigui Kouyaté estão muito bem, despertando empatia imediata com seus personagens. Elisabeth é uma mulher protestante de meia idade, preconceituosa o suficiente para adotar uma postura corporal defensiva perto de cada imigrante que vê pelo caminho (como fica claro assim que chega a Londres para procurar a filha, no início do filme). Já Ousmane, pai de um imigrante da África muçulmana, tem modos pacatos e olhar que inspira ao mesmo tempo piedade e admiração.

Ambos partem para a capital inglesa após as aterrorizantes notícias de explosões causadas por simpatizantes extremistas, ocorridas em 2005. Querem notícias de seus filhos.

Naturalmente, esses opostos irão se aproximar, obtendo, juntos, condições de superar os terríveis acontecimentos que afetariam para sempre suas vidas. Até então, convivem numa distância cordial e confortável, apesar de serem obrigados a compartilhar boa parte da procura.

Com atores ótimos e tema urgente e edificante, por que, então, "London River - Destinos Cruzados" é, ainda assim, insatisfatório?

Uma possível resposta (além do "edificante" utilizado no parágrafo anterior) seria a previsibilidade, caso este fosse um elemento por si só prejudicial aos filmes. Não é, ao menos totalmente. Tudo depende da maneira como essa previsibilidade é tratada.

Surge ainda uma outra resposta, que se somaria à da previsibilidade, aditivando-a. Trata-se do humanismo mais simplificador e reducionista, que passa por cima de diferenças enraizadas para levar o espectador à emoção mais chantagista e fácil de se provocar: a piedade.

Esse, sim, é um problema mais sério, e "London River" cai direitinho nele à medida que avança em direção a uma redenção dos protagonistas.

Existem fatores que quase conseguem tirar o filme dessa masmorra do humanismo simplório, no qual cada cena está a serviço de um gesto nobre, de compreensão e solidariedade: o desempenho dos atores principais (principalmente com as reações destes às descobertas do tipo de relacionamento e atividades que seus filhos tinham em comum e do destino desses filhos). São eles que muitas vezes transcendem o papel e conferem um relevo que a construção dos personagens parecia não incentivar.

Um outro fator é a recusa de flashbacks que mostrariam os filhos antes da tragédia, o que seria uma facilidade terrível e desmantelaria a possibilidade real que o filme provoca de imaginarmos a vida deles e termos, em nossa memória, uma representação do que não vimos.

Mas esses momentos são insuficientes para retirar do filme o peso humanista (lembrando sempre que o verdadeiro humanismo dá conta da dimensão contraditória do ser humano, capaz de intenções terríveis e sentimentos belos, às vezes ao mesmo tempo). São apenas parcos respiros soterrados pela mais óbvia e redundante boa intenção do diretor Rachid Bouchareb (o mesmo de "Fora da Lei"). Uma pena, pois a história certamente tinha potencial.

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