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Ficha completa do filme

Comédia Dramática

Um Homem Sério (2009)

Resenha por Edilson Saçashima

Edilson Saçashima

Da redação 18/06/2010
Nota 4

''Um Homem Sério'' é uma visão irônica sobre uma família judaica dos EUA de 1967. Na base da história do protagonista Larry Gopnik, um chefe de família atormentado por pequenas transformações em sua vida, estão as memórias e impressões dos diretores do filme, os irmãos Joen e Ethan Coen. Isso faz este trabalho ser apontado como o mais pessoal dos autores de ''Onde os Fracos Não Têm Vez'' e ''Queime Depois de Ler''.

Os irmãos Coen dão sua interpretação pessoal sobre os valores da cultura judaica. Os diretores iniciam o filme com um pequeno prólogo que conta a história de um casal judeu do início do século 20 que recebe a visita de uma pessoa que era considerada morta.

Nos extras incluídos no DVD lançado pela Universal, os Coen contam que esta história foi inventada por eles. Com o decorrer das desventuras de Larry, dá para entender porque aquela história, aparentemente sem nexo com o resto, abre o filme. De certa forma, ela serve como uma síntese do drama de Larry. O protagonista, assim como o casal, representa o pânico do homem diante de transformações.

Larry está em uma fase que vê sua vida monótona ser abalada por pequenos acontecimentos cotidianos: sua mulher pede o divórcio para ficar com o melhor amigo, o filho está às vésperas de celebrar seu ''bar mitzvah'', que marca a passagem do garoto à vida adulta, e para finalizar, a visão de uma vizinha sedutora abala as convicções desse homem.

Essas pequenas transformações são conduzidas de forma discreta pela câmera dos Coen. A impressão que fica é que elas são um tanto insignificantes em comparação a desestruturação de Larry, vivido por Michael Stuhlbarg, o que pode ser notado nos pesadelos do protagonista.

Essa reação desproporcional é a fonte da ironia dos Coen. No fundo, o que os diretores propõem é um convite a encarar a vida com leveza, o que pode ser resumido no pensamento de Rashi que é usado para abrir o filme: ''recebe com simplicidade tudo que lhe acontece''.

Rashi é outra referência judaica. Ele foi um rabino francês do final do século 11 que se tornou conhecido por ser um dos primeiros comentadores da Tora e do Talmud. Com essas referências clássicas ao judaísmo, os Coen sugerem uma conciliação entre tradição e transformação. Uma não se opõe à outra, como mostra a bela cena do encontro entre o filho de Larry e o rabino, quando o líder religioso devolve um walkman ao garoto. E vale lembrar que o filme se passa em 1967, em plena gestação da contracultura norte-americana. Para os Coen, a vida está sempre mudando, mas não há nada o que fazer a não ser aproveitar a vida. Essa é a proposta de ''carpe diem'' dos Coen.

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