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Ficha completa do filme

Drama

Um Olhar do Paraíso (2009)

Resenha por Sérgio Alpendre

Sérgio Alpendre

Da redação 16/07/2010
Nota 3

A carreira de Peter Jackson é um tanto estranha. Fazer "Almas Gêmeas" (1994 - filme que revelou Kate Winslet) após o sanguinolento e vagabundo "Fome Animal" (1992) é um caminho perfeitamente cabível. O mesmo pensamento é aplicável para "Os Espíritos" (1996), que misturava comédia e horror. Mas partir daí para a trilogia "O Senhor dos Anéis" é um movimento que só se justifica pela personalidade ímpar do diretor, chegado numa fantasia, mas também seduzido pela possibilidade de risco em nível zero das adaptações de Tolkien. Nenhum pecado nisso, por sinal.

Após o sucesso da trilogia, estava livre para fazer o que desse na telha, da maneira que quisesse. Dirigiu "King Kong" (2005), fracasso de momentos brilhantes. O caminho se torna um pouco mais intrincado com "Um Olhar do Paraíso" e dá para estranhar o tom no início.

As primeiras imagens são de drama familiar passado nos anos 70, algo próximo de "Tempestade de Gelo" (1997), de Ang Lee. Aos poucos, com uma narração afiliada de "Crepúsculo dos Deuses" (1950), de Billy Wilder, percebemos que o caminho enveredado é outro, o da fantasia novamente, mas com tintas de um espiritismo que beira o de almanaque, e se assemelha ao que Vincent Ward explorou em "Amor Além da Vida" (1998). Ward, que como Jackson é neozelandês, foi mais longe, principalmente porque não abusou de uma montagem paralela duvidosa, que raramente dá frutos saudáveis. Ward ainda foi bem mais feliz na concepção visual, sem dúvida o ponto forte de seu filme.

Jackson, por outro lado, não cometeu só esse pecado. Perdeu-se, ainda, em imagens bregas para dar conta do mundo paralelo para onde foi a adolescente assassinada que narra a história. Perdeu-se, também, em algumas inconsequências cometidas por seus personagens, sobretudo o do pai, interpretado por um perdido Mark Wahlberg. Não é só o ator de "Fim dos Tempos" que se complica no filme. Também Susan Sarandon revela sua pior faceta como a caricata avó perua. Ela cresce no final, mas aí já é tarde.

Rachel Weisz está OK como a mãe, e Stanley Tucci faz o vilão, um assassino de crianças, papel que lhe caiu do céu, mas não o transforma num personagem digno de antologia. O destaque, no campo das atuações, vai então para as duas garotas, Saoirse Ronan (Susie, a protagonista / narradora) e Rose McIver (Lindsay, irmã de Susie). Elas parecem dar tudo de si para que o filme avance, e Jackson acerta sempre que coloca o foco em uma das duas. Em um momento dos mais inspirados do filme, a irmã assassinada assiste, do limbo, ao primeiro beijo da irmã. Pena que esse momento sirva de gancho para uma resolução brega mais adiante.

Mas o ponto mais baixo do filme é mesmo a montagem paralela. É preciso muita habilidade para alternar planos distintos sem que o espectador se desinteresse pelos desenvolvimentos das ações. Jackson, com o auxílio de seu montador Jabez Olssen (assistente nos filmes anteriores do diretor, foi promovido em "Crossing the Line", curta feito em 2008 e co-dirigido por Neill Blomkamp, de "Distrito 9"), não conseguiu imprimir uma dinâmica atraente, perdendo-se em cortes afobados e planos mal amarrados.

Ainda assim, como "King Kong", é um fracasso que tem seus achados.

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