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Ficha completa do filme

Ação,Policial

Tropa de Elite 2 (2010)

Resenha por Márcio Ferrari

Márcio Ferrari

Da redação 12/04/2011
Nota 3

Esta sequência de ''Tropa de Elite (2007)'' foi o filme mais visto de 2010 nos cinemas brasileiros, ultrapassando com folga o blockbuster americano ''Avatar'' e tirando do topo da lista dos campeões de público nacionais o lugar que era desde 1976 de ''Dona Flor e Seus Dois Maridos''. Algumas semanas depois do lançamento de ''Tropa de Elite 2'' se deu a ocupação do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, pelo Bope, uma operação que, como observou o crítico Inácio Araujo, se legitimou, pelo menos em parte, pela credibilidade que os dois filmes conferiram à Polícia Militar. Segundo se sabe, o público dos cinemas aplaudia o capitão Nascimento (Wagner Moura) quando torturava e matava traficantes no primeiro filme e, no segundo, quando ele dá uma coça num parlamentar corrupto. Como acontecimento político e social, ''Tropa de Elite 2'', tanto quanto o antecessor, é incontornável. Artisticamente, está longe disso.

Essa distinção é importante por se tratar agora do lançamento do filme no mercado doméstico, hoje bastante enfraquecido pela pirataria. Talvez seja por isso que os responsáveis por ''Tropa de Elite 2'' não tenham se preocupado muito em prover o DVD e o blu-ray de atrações especiais. Ele vem apenas com o trailer e um ''making of'' de 13 minutos, sem título e sem créditos, que emenda algumas cenas das filmagens com entrevistas do diretor, José Padilha, e de alguns dos atores.

Padilha, sobretudo, ressalta o que há de essencial no filme: ''retomar o personagem [capitão Nascimento] e transformar noutra coisa''. Ou seja, agora ele deixa de ser o policial violento e cheio de convicções (como a tese de que os usuários de drogas de classe média são os culpados pelo estado de guerra civil nas grandes cidades brasileiras) e passa a ser um quase observador do grande quadro social do país (que ele chama, de modo apropriadamente genérico, de ''o sistema''). Por mais diferentes que sejam as posições no tabuleiro entre o primeiro e o segundo filme, o capitão Nascimento continua dando lições ao espectador (seu ''parceiro'') na narração em off. Somos submetidos a sua visão única e ao desfiar de um diagnóstico ''sociológico'' para o qual é preciso ter reservas cavalares de paciência.

No início do filme, Nascimento, bem mais velho do que no primeiro, ainda é ''mais ou menos o mesmo'', como diz Padilha na entrevista. Ele continua a fustigar a figura do ''intelectualzinho de esquerda que ganha a vida sustentando vagabundo'', aqui representado pelo professor universitário Diogo Fraga (Irandhir Santos). E diz que ''estaria no Bope a vida inteira se não fosse o que aconteceu no presídio'' (Bangu). Acompanhamos então uma rebelião de presos que culmina com a imprudência mortal de um dos homens de confiança de Nascimento, o comandante André Matias (André Ramiro), o mesmo que no primeiro filme assumia o papel de representante dos pobres, isto é, o cara que realmente sabe como é o mundo, em oposição aos ?intelectuaizinhos de esquerda? que no filme esposavam as ideias de Michel Foucault.

Todo esse início é filmado com admirável energia por Padilha. Mas em seguida o roteiro adota um expediente de comédia, ao fazer com que a mulher de Nascimento (Maria Ribeiro) no primeiro filme agora apareça casada com Fraga: transferiu-se para as bandas do ''inimigo'' com o filho do policial. Mergulhando ainda mais o filme em tom de galhofa, entra em cena, totalmente caricatural, um apresentador de televisão sensacionalista e inescrupuloso (André Mattos). Esses personagens deslocados retornarão em chave dramática, mas resta um lastro de humor que faz o filme empacar em algum lugar entre a sátira e o melodrama de família (Nascimento precisa reconquistar o filho que o despreza).

Destituído de suas funções de combatente, Nascimento se torna subsecretário de segurança e isso (o mundo da política) o fará mudar de pontos de vista em sua análise da situação: o subtítulo de ''Tropa de Elite 2'' é ''O inimigo agora é outro''. Nem por isso somos poupados de uma cena para lembrar a tortura do saco plástico do primeiro filme. Por fim, Nascimento chega a uma conclusão digna de um foulcaultiano: ''O sistema não tem um planejamento central nem diretoria, parceiro. O sistema é um mecanismo impessoal, uma articulação de interesses escusos.''

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