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Calendário audiovisual brasileiro tem início nesta sexta (21), com abertura da Mostra de Cinema de Tiradentes

SÉRGIO ALPENDRE

Colaboração para o UOL

21/01/2011 13h39

Com exibição de 134 filmes brasileiros, a 14ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes tem início nesta sexta (21), a partir das 21h, no Cine-Tenda. A noite de abertura contará com a presença da ministra da Cultura, Ana de Hollanda, que vai inaugurar oficialmente o calendário audiovisual brasileiro, em um de seus primeiros compromissos públicos desde a posse.

Ao todo são 30 longas em pré-estreias nacionais e mundiais, 104 curtas, 12 debates da série "Encontro com a Crítica, o Diretor e o Público", cinco debates temáticos com a participação de diretores como Cláudio Assis, Julio Bressane e Cacá Diegues, três lançamentos de livros e dois diálogos audiovisuais com a participação de profissionais do setor. Toda programação é oferecida gratuitamente ao público, estimado em mais de 30 mil pessoas.

Paulo Cezar Saraceni, o grande homenageado do evento, é um dos diretores menos festejados do Cinema Novo. Contudo, seus filmes constituem uma das carreiras mais importantes de nosso cinema, com títulos como "Porto das Caixas", "O Desafio", "A Casa Assassinada", "Ao Sul do Meu Corpo" e "O Viajante". Além do primeiro desses títulos, um clássico de 1959, a mostra exibe seu mais recente trabalho, o longa "O Gerente", protagonizado por Ney Latorraca.

O outro homenageado do evento é o ator Irandhir Santos, um dos maiores talentos da nova geração. Seu papel mais marcante até aqui é o do professor que luta pelos direitos humanos em "Tropa de Elite 2", filme de José Padilha que provavelmente terá uma exibição muito disputada.

Além das homenagens, há ainda a Mostra Olhares, com filmes de diretores mais calejados de outros festivais, como Felipe Bragança, Cao Guimarães e Eryk Rocha, e a Mostra Vertentes, composta por filmes que já não são mais estreantes, mas que fazem um cinema de proposta transgressora e pretensão à inovação, e não obtiveram reconhecimento em outros festivais, segundo a curadoria. Para a gurizada, há uma Mostrinha de cinema, com exibição de sucessos para todas as idades.

Novo cinema na cidade histórica

A cidade histórica mineira há tempos se consolidou como o espaço para novas ideias, novos ares. Não importa tanto se essas novidades são puro fogo de palha ou repetições de cacoetes do cinema brasileiro de outros tempos, ou ainda novos faróis para o cinema que virá a seguir. Isso poderemos comprovar vendo os filmes. O que importa é que há espaço para mostrar o novo, e um cuidado especial da curadoria com as demonstrações desse novo. Se teremos boa safra a partir do que veremos em Tiradentes é outra história, e cabe a nós, críticos e jornalistas, apontar problemas e defender o que merece ser defendido.

O fato de ter uma mostra dedicada a esse cinema, intitulada pertinentemente de Aurora, faz com que o festival atraia jovens de todo o país, que lotam as ruas de pedra da pequena cidade, mudando o cotidiano de seus moradores e enchendo de som o entorno montanhoso. Esse efeito colateral pode desagradar quem busca o sossego, ou quer realizar um trabalho intelectual efetivo. De fato, a barulheira de algumas festas atrapalha um bocado a concentração, assim como os bêbados que invadem os espaços de exibição e competem com o filme na quantidade de decibéis despejados. Por outro lado, é bacana ver tamanha força em um evento que não prima pelo glamour nem pelo estrelismo, mas pelo cinema e pela discussão.

Como um festival não se faz só com bons filmes, é inevitável o desnível na programação. Seja como for, daqui a dez dias conheceremos o balanço deste ano, e o que nos promete essa nova safra de filmes.