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Indústria poderosa de filmes, Bollywood mistura suas estrelas de cinema com as de Hollywood; saiba mais sobre a parceria

ANTONIO FARINACI

Especial para o UOL

09/04/2011 08h00

A Índia é o maior produtor de filmes do mundo. Com cerca de 1.000 lançamentos anuais, o país produz aproximadamente o dobro do que produzem os Estados Unidos, segundo lugar do ranking. E para dar conta da diversidade da nação indiana, com suas 22 línguas, a indústria cinematográfica está dividida em focos de produção regionais que fazem filmes para cada um desses públicos.


A maior força dentro dessa usina é o cinema produzido na cidade de Mumbai, em hindi (língua considerada "oficial" ao lado do inglês). A cidade ganhou o apelido de Bollywood — uma fusão de "Hollywood" com o "B" de seu antigo nome, Bombaim. Lá foram produzidos 235 filmes, só em 2009 (números mais recentes), grande parte deles no indefectível estilo conhecido como "masala", predominante no cinema comercial hindu, em que não podem faltar cenas musicais bombásticas e enredos românticos água com açúcar.

Para satisfazer tanta sede de amor nas telas, Bollywood conta com um batalhão de pares românticos. E o sistema usado para montar as duplas lembra um pouco o das novelas brasileiras: se o casal agradar ao público, aparece junto novamente em outra produção. Assim, no decorrer dos anos, vários pares românticos das telas —alguns casados na vida real, outros, amantes que causaram escândalo— foram povoando o panteão bollywoodiano.

Namoro com Hollywood

Mas, para além do romance e do colorido do estilo masala, foi a pujança desse mercado que atraiu a atenção de cineastas e estúdios ocidentais nos últimos anos. Em 2009, foi anunciada uma grande produção conjunta de Bollywood com Hollywood, para contar a vida da primeira-ministra hindu Indira Gandhi (1917 - 1984). O filme, provisoriamente entitulado "Mother: The Indira Gandhi Story", terá Madhuri Dixit, uma das maiores estrelas indianas, no papel principal, e contará ainda com Helen Mirren e Tom Hanks.

 

  • Fotomontagem UOL/ Getty Images

    À esquerda, Shah Rukh Khan participa de evento de cinema na Itália, em imagem de 2010; à direita, Leonardo DiCaprio participa de premiação nos EUA, em 2011

As colaborações com Hollywood não param por aí. O jornal "Times of India" noticiou há algumas semanas que Leonardo DiCaprio e o diretor e roteirista Paul Schrader trabalharão em Mumbai pela primeira vez, no filme de ação "Xtrme City", cujas filmagens devem começar em 2012. Leo fará o papel de um policial novaiorquino que vai à Índia encontrar seu amigo que se tornou um chefe mafioso. No papel do chefão, o superstar de bollywoodiano Shah Rukh Khan.


O interesse mútuo não é difícil de entender. O cinema indiano, que deve muito aos filmes musicais americanos dos anos 30 a 50, produz hoje maior número de títulos do que os Estados Unidos e tem um público local gigantesco. Mas, mesmo projetando um crescimento assombroso para os próximos anos, tem um retorno financeiro menor com esses filmes. Em números: o mercado de cinema e TV indianos rendeu em 2007 algo em torno de US$ 7,7 bilhões, e espera-se que duplique de valor até 2015. Hollywood gera cerca de US$ 40 bilhões anualmente. No entanto, o público indiano é o dobro do americano. Nos EUA foram vendidos algo em torno de 1,5 bilhão de ingressos em 2009, enquanto na Índia o número chegou a 3 bilhões.

Outro grande atrativo para os estúdios americanos são os custos de produção mais baixos em Bollywood. Só para se ter uma ideia de salários, um grande astro hindu pode chegar a faturar, na melhor das hipóteses, US$ 3,5 milhões por um filme. Mesmo alta, a quantia é ainda bem modesta se comparada aos US$ 78 milhões que Johnny Depp levou por "Piratas do Caribe 2".

No final de 2010, foi assinado um acordo de colaboração entre a Motion Picture Association of America (entidade que congrega os maiores estúdios de Hollywood) e produtoras de Bollywood, com o intuito de apertar os laços entre as duas indústrias. Por isso, é possível que cada vez mais atores indianos dêem as caras em filmes americanos e vice-versa.

E não é só pelas telonas que o colorido bollywoodiano deve chegar aos espectadores ocidentais. Uma grande companhia de cosméticos ocidental lançou recentemente uma linha de produtos inspirada em Bollywood, desenvolvida por um dos maiores maquiadores do cinema indiano, Mickey Contractor.

"O que é, o que é?"

No Brasil, a febre de Bollywood ainda não é um fenômeno popular. Raramente os cinemas nacionais exibem títulos indianos, a não ser em mostras específicas. O que não significa que Bollywood não esteja de olho no Brasil e que o cinema brasileiro esteja alheio à produção hindu. Em 2006, o filme de ação "Dhoom 2" tinha grande parte de suas cenas rodadas no Rio de Janeiro, e números musicais ao som de uma versão quase irreconhecível da música "O Que É, o Que É", de Gonzaguinha (aquela que diz "viver, e não ter a vergonha de ser feliz" etc).

E, em 29 de abril, está previsto para estrear em circuito comercial a primeira coprodução Brasil-Índia: o filme "O Sonho Bollywoodiano", de Beatriz Seigner. O filme acompanha a jornada de três atrizes brasileiras que partem para Mumbai com o sonho de trabalhar no cinema indiano.

TRAILER DO FILME ''O SONHO BOLLYWOODIANO''