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Ministra da Cultura lamenta a morte do cineasta Carlos Reichenbach; veja outros depoimentos

Carlos Reichenbach durante o lançamento de um livro em 2010 - Mastrangelo Reino /Folhapress
Carlos Reichenbach durante o lançamento de um livro em 2010 Imagem: Mastrangelo Reino /Folhapress

Do UOL, em São Paulo

15/06/2012 12h59

A ministra da Cultura, Ana de Hollanda, lamentou a morte do cineasta gaúcho Carlos Reichenbach, que será enterrado nesta sexta-feira (15), às 17h, em São Paulo.

"A cultura brasileira acaba de perder o grande cineasta Carlos Reichenbach. Sentiremos sua falta. Inquieto, vanguardista que, por trilhar caminhos menos usuais entre os cineastas tradicionais, foi taxado como autor de filme marginal e da Boca do Lixo. No entanto, apaixonado pelo cinema em si, foi autor de obras-primas como 'Anjos do Arrabalde' e 'Álma Corsária'."

Reichenbach morreu por volta das 17h30 de quinta-feira (14), dia em que completou 67 anos. Segundo a produtora Sara Silveira, sócia do cineasta, ele sofreu uma parada cardíaca e foi levado à Santa Casa de Misericórdia, mas chegou morto.

Repercussão

A apresentadora Marina Person lamentou a morte do diretor. “Estou muito triste, nem sei por onde começar a falar do Carlão. O primeiro filme que fiz fora da faculdade foi um filme dele, o 'Alma Corsária'. Ele era uma cara muito generoso, que gostava de ensinar os outros." 

Sara Silveira, sócia e amiga, também expressou sua tristeza. "Morreu a pessoa que me ensinou tudo, meu mestre, meu melhor amigo, um cara jovem. É muito triste. Ele é a pessoa mais importante da minha vida, me ensinou tudo que eu sei de cinema. É um dos artistas mais importantes desse país."

Betty Faria relembrou a época em que trabalhou com o cineasta. "Carlão, meu amigo, diretor, morreu no dia de seu aniversário. Aquele coração! Com Reichenbach fiz 'Anjos do Arrabalde' (1987) e 'Bens Confiscados' (2004), além de uma grande amizade", escreveu a atriz em seu Twitter.

"Ele é um querido. A gente perde um grande apaixonado pelo cinema, principalmente, pelo cinema brasileiro", disse a atriz Luciele Di Camargo. "Ele fazia os filmes com as próprias mãos para fazer acontecer. Estou bem triste."

"O cinema ficou mais pobre e triste. Pra mim, fica a imagem de um homem ousado na sua arte e generoso com as pessoas", declarou Paulo Morelli, cineasta e sócio da produtora O2 Filmes, por e-mail.

A atriz Helena Ignez, ícone do cinema marginal, também manifestou sua tristeza. "Fui surpreendida dolorosamente por essa notícia, apesar de saber que ele já estava com a saúde fraca. Antes de tudo, ele era um anjo, um diretor incrivelmente autoral. Deixa uma falta insubstituível. É tão doloroso, e você não espera, no dia do aniversário. É uma coisa muito interessante até, e tem até um humor muito dele".

“Eu não era do círculo íntimo do Carlos, encontrei com ele algumas vezes, mas nunca tive a oportunidade de dizer o quanto ele influenciou na minha pós-adolescência com o filme 'Anjos do Arrabalde'. A marca que o Carlão vai deixar no cinema brasileiro são muitas, ele fazia uma cinema que não obedecia uma regra. Ele dizia que o cinema estava muito cheio de pudor e ele tinha esse despudor na linguagem e na narrativa", Hilton Lacerda, roteirista de "Árido Movie”, “Baile Perfumado” e “A Festa da Menina Morta”.

Trajetória

Reichenbach nasceu em Porto Alegre, mas foi em São Paulo que se consagrou como um dos principais nomes do cinema nacional.

Ignorado pela Academia, mas detentor de diversos prêmios em festivais nacionais como Gramado, Brasília e Ceará, ele via com maus olhos as recentes tentativas do Brasil de buscar um Oscar. "Isso é uma sandice. Uma das coisas mais funestas que aconteceu nos últimos tempos é esse tipo de cobrança", decretou em entrevista ao UOL em 2008. "Ou se faz filme pra ver no Brasil, ou se faz filme para festival. Isso tem provocado a despersonalização brutal do nosso cinema. Mal do Oscar que nunca premiou Nelson Pereira dos Santos", provocou.

Na mesma entrevista, realizada por ocasião do lançamento de "Falsa Loura", o cineasta defendeu as possibilidades de compartilhamento de filmes na internet, especialmente para o resgate de trabalhos históricos, que não encontram mais espaço nas salas de cinema ou locadoras.

"Sou frequentador de cinema assíduo desde os 15 anos. Nunca fiz a conta, mas devo ter visto mais de 2.000 ou 3.000 filmes na minha vida toda. E às vezes ainda me assusto: que filme é esse? Nunca vi", disse. "Filmes são para serem vistos. As pessoas têm que ter direito a esse acesso. O espaço está mudando. O cinema hoje não é só mais o cinema de shopping center", concluiu.

Reichenbach era casado com Lygia Reichenbach e deixa três filhos e uma neta.