Topo

Longa "Disparos" se inspira em casos reais de violência urbana no Rio de Janeiro

Gustavo Machado em cena de "Disparos" - Divulgação
Gustavo Machado em cena de "Disparos" Imagem: Divulgação

Fabíola Ortiz

Do UOL, no Rio de Janeiro

02/10/2012 01h42

Inspirado em casos reais de violência no Rio de Janeiro, o longa “Disparos”, o primeiro da cineasta carioca Juliana Reis, é um thriller de ação psicológica que prendeu a atenção do público na pré-estreia desta segunda-feira (1º), no Festival do Rio.

Com Gustavo Machado interpretando um fotógrafo e Caco Ciocler, um inspetor de polícia, “Disparos” concorre ao prêmio Redentor na mostra competitiva da Première Brasil e foi exibido pela primeira vez ao público que lotou o Cine Odeon, tradicional sala de cinema na cidade.

A ideia do longa surgiu de uma “espécie de toalha de retalhos” de casos ordinários de violência urbana na cidade que Juliana Reis compôs e costurou num roteiro com nuances de humor.

“No começo de 2008, um amigo fotógrafo me telefona contando o que aconteceu na noite anterior, era um caso bastante impressionante. Ele estava sendo assaltado e, de repente, veio alguém em solidariedade e atropela o assaltando. Esse evento me impressionou”, disse ao UOL Juliana que estudou cinema em Paris e hoje leciona Roteiro na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, no Rio.

“É o que eu chamo de um thriller social, um multiplot com várias histórias que vão se entrelaçando”, destaca a realizadora antes da exibição do filme.

Filmado durante quatro semanas entre 2010 e 2011, o filme é ambientado nas ruas da Lapa, no centro do Rio de Janeiro, e todas as cenas são noturnas.

“O filme é carioca da gema, mas o local é universal, pois é uma história que poderia acontecer em qualquer grande cidade” contou Juliana.

No longa, o fotógrafo Henrique (vivido por Gustavo Machado) é assaltado por dois motoqueiros, que no mesmo instante são atropelados por um carro não identificado. Assustado, ele recupera sua câmera e vai embora, mas precisa voltar ao local para resgatar o cartão de memória perdido.

Ao retornar, o personagem passa de vítima do assalto para omissor de socorro num caso de lesão corporal, aonde a vítima passa a ser o assaltante. “Existe esse questionamento de papéis em torno da violência urbana”, afirma a diretora.

O ator Gustavo Machado que vive o fotógrafo admite que grande parte das cenas foi de tensão.

“Foi uma experiência trabalhosa, praticamente o mês inteiro de gravação noturna. É uma única noite na vida do Henrique, uma noite de tensão. O acidente é na Lapa, mas pode ser em uma grande cidade. É um thriller de ação psicológica. Nos centros urbanos, a gente vive esse tipo de violência anônima. É uma situação tão pesada quanto patética”, destacou o protagonista.

Ansioso para a pré-estreia, Machado disse esperar uma recepção calorosa do público. E foi justamente o que aconteceu, além de cenas de tensão, toques de humor fizeram com que o público interagisse com o filme e desse risadas.

Já Caco Ciocler, que além de integrar o elenco de “Meu Pé de Laranja Lima” também atua em “Disparos”, desta vez como um inspetor de polícia civil, admite que o público pode se surpreender.

“É um personagem interessante, meio cínico, provocador, o antagonista do filme, e geralmente são os personagens mais legais de fazer”, conta Ciocler.

Para a atriz Dedina Bernardelli, também parte do elenco, o filme expressa o conflito, mas concilia com momentos de humor.

“A temática é dura, mas Juliana consegue tratar com certa dose de humor rascante. As cenas, os personagens ficam em situações meio ridículas. O protagonista, que seria o mocinho, é irritante, arrogante e antipático. Você fica meio torce ou não torce. Essa é a brincadeira que Juliana faz com as situações e os personagens”, admitiu.

A previsão de lançamento nacional do filme após o festival é dia 9 de novembro. Para a diretora Juliana Reis, a expectativa era grande para a exibição do longa. “De um filme que era para ser pequeno e hoje, estar no festival, já vale um Oscar para mim”, brincou.