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"Detona Ralph" dá vida aos personagens dos games com bom humor e respeito aos jogadores

Pôster brasileiro da animação "Detona Ralph" - Divulgação
Pôster brasileiro da animação "Detona Ralph" Imagem: Divulgação

André Forte

Do UOL, em São Paulo

04/01/2013 13h32

A animação "Detona Ralph", que chega aos cinemas brasileiros nessa sexta-feira (4) é a aposta da Disney para agradar aos fãs de videogames, tão carentes de uma boa produção baseada no tema para os cinemas.

O filme, que de acordo com seu criador, funciona como um "Toy Story" dos games, ou seja, usa a mesma fórmula do popular filme estrelado pelos brinquedos Buzz e Woody: há um mundo paralelo a qual não conhecemos e que é povoado pelos heróis, no caso, os personagens famosos e originais de jogos de fliperama.

Ralph (dublado por Tiago Abravanel) é o vilão do jogo "Conserta Felix Jr" e vive diariamente cumprindo a sua tarefa no game, que é destruir um prédio para que o herói principal, Felix (Rafael Cortez), possa consertar. O problema é que, apesar de ciente da sua importância no jogo, Ralph não é bem tratado pelos demais personagens do jogo, e deseja virar esse jogo: ele quer ser um herói.

Em sua jornada, ele conhece personagens como a menina Vanellope (dublada por Marimoon), uma 'bug' do jogo de corrida "Sugar Rush" que, assim como ele, também é rejeitada pelas demais personagens do seu game. Juntos, eles partem em uma aventura rumo à redenção - o que implica, obviamente, em muita confusão nesse mundo formado por jogos do passado e do presente.

O passado dessas máquinas, aliás, permeia boa parte do longa-metragem. Ambientado em um fliperama, o filme usa personagens clássicos como Pac-Man e Q-Bert, além dos populares lutadores de "Street Fighter", dos vilões Bowser, da série "Super Mario" e Dr. Eggman, de "Sonic", mas há espaço também para citações indiretas a títulos mais modernos, como "Halo" e “Call of Duty”.

E é uma experiência fantástica ver como esses heróis foram transportados para o roteiro de forma orgânica e natural. Em "Ralph", não há espaço para uso desvirtuado desses ícones dos games. Há respeito com cada propriedade intelectual das fabricantes dos jogos, o que certamente agradará aos fãs de entretenimento eletrônico. O Bowser do filme não é diferente do vilão do Mario no jogo, seja no visual, seja em sua personalidade.

A atenção aos detalhes e característica de cada época dos jogos também é perceptível. Enquanto o mundo de "Conserta Felix Jr." remete aos gráficos já ultrapassados dos 8 bits - com destaque a grande presença de linhas retas nos edifícios e animações mais duras e forçadas de seus personagens, mundos como "Hero's Duty" são muito similares aos dos jogos atuais, com grande foco nos efeitos de luz e sombra, explosões e ritmo frenético nas animações dos heróis.

Há espaço- inclusive, para piadas inteligentes que quebram o clima de tensão e suavizam até as cenas mais agitadas. Em um dos momentos mais críticos da trama, a beleza da personagem Calhoun é comparada à alta resolução dos jogos em HD da atualidade.

Além disso, até as diferenças culturais entre jogos do ocidente e do oriente podem ser notados. Enquanto o jogo de tiro "Hero's Duty" se assemelha muito às produções foto-realistas do ocidente, "Sugar Rush" é um game de corrida tipicamente oriental, com destaque à coloração exagerada nos cenários e personagens bonitinhos e achatados.

Se, a princípio, "Detona Ralph" pode passar a impressão de ser um filme só para fãs de games, o diretor Rich Moore se empenhou em colocar um tempero extra para agradar aos adultos: ele somou um saudosismo saudável de jogos antigos para fazer até quem já abandonou o joystick ao menos lembrar como era legal jogar um fliperama em sua infância.

Ajuda também o bom trabalho dos dubladores brasileiros, que em nada deixaram a desejar em relação ao ótimo trabalho do original em inglês, que conta com os comediantes John C. Reilly e Sarah Silverman. Enquanto Tiago Abravanel não precisou se esforçar tanto para dar voz ao vilão Ralph, MariMoon e Rafael Cortez tiveram que mudar completamente a sua forma de falar para dar vida à, respectivamente, Vanellope e Felix. A menina, que vive no mundo dos doces "Sugar Rush", tem uma voz de criança hiperativa. Já Felix tem timbre de um garoto bonzinho, que contrasta e muito com o tom grave de Cortez.

Ainda assim, caso você nunca tenha jogado videogames, prepare-se para se surpreender com uma história bem amarrada, com um roteiro divertido que não se perde nos muitos detalhes e citações de games, que caso não o desperte curiosidade para jogar um game, o transformará em um entusiasta até o fim do filme.

No final, a boa impressão é que "Detona Ralph" bebe demais na fonte de "Toy Story" para não errar a mão, mas tem fôlego e conteúdo suficiente para agradar a todos, mesmo aos que não jogam.

Veja o trailer de "Detona Ralph"