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Vivien Leigh, que viveu a Scarlet O'Hara, completaria 100 anos nesta terça

Magdalena Tsanis

05/11/2013 06h46

Embora fosse britânica, sua inesquecível Scarlet O'Hara a fez passar à História como a encarnação da beleza trágica e impetuosa do sul dos Estados Unidos, qualidades que também marcaram a vida real de Vivien Leigh, que completaria 100 anos nesta terça-feira (5).

Tão infeliz como o destino da heroína sulina foi o da atriz, várias vezes submetida a tratamentos de eletrochoques por causa de um transtorno de bipolaridade mal diagnosticado, e a morte precoce aos 54 anos de tuberculose.

A obstinação e a rebeldia que também compartilhou com o personagem a ajudaram a conseguir o papel de sua vida, que descobriu aos 23 anos quando, em repouso após um acidente de esqui, devorou o dramalhão de mil páginas de Margaret Mitchell que tinha revolucionado os Estados Unidos naquele verão de 1936.

Quando soube que, do outro lado do Atlântico, David O. Selznick buscava um rosto para a rica e caprichosa Scarlett em "E o Vento Levou" (1939), buscou um agente nos Estados Unidos e não sossegou até conseguir uma reunião com o grande produtor, que já tinha começado a filmagem do épico.

Vivien tinha tanta certeza que seria Scarlett, papel que valeu seu primeiro Oscar, que no início de sua aventura americana se recusou a ficar à disposição de Cecil B. de Mile em "Aliança de Aço" e também um contrato com a Paramount para quatro filmes, apenas para estar disponível.

O mesmo empenho pôs a jovem e casada Vivien em perseguir Laurence Olivier, convencida que o ator era o grande amor de sua vida.

Ele também era casado quando a então promissora atriz se apresentou de surpresa, simulando um encontro casual, no mesmo hotel de Capri onde ele passava uns dias de férias com sua esposa.

Começou assim uma longa e nem sempre fácil história de amor, que seria ofuscada com o tempo com infidelidades mútuas e que acabou por desmoronar semanas depois de o sir da cena britânica a presentear com um Rolls Royce azul por seu 45º aniversário.

Personalidade demonstrou também quando em 1957 liderou um protesto para salvar o Saint James Theater da demolição, ameaçado por um projeto para construir apartamentos, e chegou a entrar aos gritos na Câmara dos Lordes, o que levou o primeiro-ministro Winston Churchill a escrever uma carta elogiando sua coragem e desaprovando seus modos.

Mas não foi só o personagem de Scarlet o que guardou semelhanças com sua vida. A dilaceradora Blanche Dubois, suas polêmicas tendências sexuais e seu desequilíbrio mental em "Um Bonde Chamado Desejo" (1951), de Elia Kazan, foram um obscuro presságio de seus dias.

O gigolô e alcoviteiro Scotty Bowers conta no livro "Serviço Completo: As Minhas Aventuras em Hollywood e a Secreta Vida Sexual das Estrelas" que tanto Leigh como Olivier eram bissexuais e que eles usaram seus serviços com frequência.

"Era quente. Uma mulher quente. Muito sexual e muito excitável. Quando assumia uma tarefa exigia uma satisfação plena e completa. Aquela noite transamos como se a sobrevivência do planeta dependesse disso", descreveu Bowers.

Aquele papel em "Um Bonde Chamado Desejo", junto com Marlon Brando, garantiu a ela seu segundo Oscar, mas também aguçou suas crise nervosas a tal ponto que nas filmagens do longa seguinte, "No Caminho dos Elefantes" (1954), acabou sendo substituída por Elizabeth Taylor, após vários ataques de histeria e esquecimentos do roteiro.

A filmografia completa de Vivien Leigh não chega a 20 títulos, como "O Profundo Mar Azul" (1955) e "Ana Karenina" (1948), que teve piores críticas que a de versão de Greta Garbo.

E fato é que a intérprete de olhos verdes e vidrados nunca abandonou o teatro, sua paixão desde criança.

A recompensa chegou, embora tardia, na forma de um Tony de melhor atriz por sua atuação no musical "Tovarich" (1963), apesar de seu estado de saúde já estar muito delicado e ter chegado a desmaiar no palco.

Após um famoso divórcio que foi assunto nacional, passou os últimos anos de sua vida ao lado do também ator John Merivale, sem perder nunca o contato com seu primeiro marido, Leigh Holman, e pai de sua única filha, Suzanne.

Cem anos após seu nascimento na Índia britânica, o legado de Vivien Leigh permanece em forma de indeléveis sequências e frases que estão entre as mais míticas da História do cinema como "Com Deus como minha testemunha juro que não passarei fome novamente" ou "Apesar de tudo amanhã é outro dia".