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Em filme sobre Guerra da Bósnia, Angelina Jolie é mais embaixadora da ONU do que diretora

Cena de "Na Terra de Amor e Ódio", estreia de Angelina Jolie na direção - Divulgação
Cena de "Na Terra de Amor e Ódio", estreia de Angelina Jolie na direção Imagem: Divulgação

Chico Fireman

Do UOL, em São Paulo

06/12/2012 05h00

Angelina Jolie levou a sério o papel de embaixadora da boa vontade da Organização das Nações Unidas para os Refugiados. “Na Terra de Amor e Ódio”, que estreia nesta sexta-feira (7), parece um documentário feito por uma organização não governamental com a missão de denunciar as mazelas sofridas pelos bósnios durante uma das guerras mais cruéis dos últimos anos. O filme, o primeiro longa de ficção dirigido pela atriz, tem algumas cenas fortes, mas peca pela burocracia.

A história do amor proibido entre um soldado sérvio e uma mulher da Bósnia serve para que Angelina discorra sobre a intolerância étnica-religiosa que sempre existiu nas repúblicas que formavam a antiga Iugoslávia. Um estado de instabilidade que explodiu logo após a dissolução do país e que gerou a chamada Guerra da Bósnia, quando, durante quatro anos, os sérvios promoveram um massacre que dizimou parte da população bósnia e transformou mais de um milhão de pessoas em refugiados.

A mulher de Brad Pitt enxergou na situação uma oportunidade perfeita para combinar dois papéis: o de missionária da ONU e o de integrante da indústria cinematográfica. Mas Angelina deu um passo além, passando para o outro lado das câmeras, assumindo os riscos de virar cineasta. E “Na Terra de Amor e Ódio” guarda muitos dos problemas da direção de uma iniciante: na vontade de fazer um filme sério, um trabalho realmente importante, Angelina pariu um filme convencional e chato.

Olhando de longe, tudo que é preciso para se criar uma história envolvente está lá: heróis, vilões, cenas tensas, fortes momentos dramáticos e uma certa habilidade para dirigir sequências de ação, mas Angelina peca pelo excesso. A decisão de rodar o filme em sérvio e bósnio parece a mais adequada para manter o filme fiel a suas origens, principalmente escolhendo somente atores locais para o projeto. Mas qual seria a função de até os créditos serem assim quando a ideia é lançar o filme para o mundo? Charme?   

Muitos personagens são carregados no estereótipo, especialmente os vilões, que são muito “maus”,  sempre dispostos a mandar bala, violentar mulheres e matar crianças. Os relatos da guerra dão conta de tudo isso, mas não existe nenhuma tentativa de humanizar ou relativizar as ações dos personagens. E não se trata de amenizar a denúncia, mas de dar credibilidade aos retratos.

A exceção fica por conta do Romeu protagonista que a diretora procura salvar pela hashtag “#amor”. A construção do personagem é bem confusa, flutuando entre uma inocência inaceitável para um soldado em guerra e a explosão de fúria sem explicação, talvez numa tentativa de justificar os reflexos psicológicos do conflito. Um trabalho dramático raso, mas com razões nobres. Mas de (embaixadores da) “boa vontade”, o cinema está cheio e, como mostra a repercussão mínima do filme, o espectador parece bem pouco disposto a trocar uma boa história por um discurso político cheio de clichês.

Trailer do filme "Na Terra de Amor e Ódio"