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Na estreia de "Giovanni Improtta", José Wilker diz que cinema nacional vive "surto"

Carlos Minuano*

Do UOL, em Olinda (PE)

27/04/2013 18h18

“Costumam falar em ciclos do cinema nacional, eu vejo surtos cinematográficos”, afirma o ator e diretor José Wilker, em entrevista ao UOL. Para ele um dos "surtos" mais recentes, é o da chamada retomada, que trouxe junto com seu avanço um problema novo que precisa ser encarado, o da falta de espaços de exibição.

“Governos criaram sistema de financiamento para a produção de cinema, mas não se preocuparam em equipar o país para o consumo desse produto”. Wilker diz que comemora o atual momento de vitalidade das produções, mas lamenta a permanente invisibilidade dos filmes.

“Não temos mais as complicações de 20 anos atrás, hoje você pega um celular e faz um filme, mas onde você vai exibir isso?”, indaga. Apoio de governos ao cinema, segundo Wilker, é demagogia, na realidade, criou uma armadilha. “Fazemos hoje um cinema invisível,”, ressalta.

Com 50 anos de carreira, o ator José Wilker estreia na direção com a comedia “Giovanni Improtta”, filme que abriu nesta sexta (26), a mostra competitiva de longas do 17° Cine PE, que segue até 2 de maio.

O filme, que entra em cartaz em meados de maio, é inspirado no personagem homônimo que Wilker viveu na novela “Senhora do Destino” (2004), e no livro “Prendam Giovanni Improtta”, ambos do escritor e novelista Aguinaldo Silva.

A primeira exibição tirou risadas do público, mas, nos bastidores do festival, elogios dividem espaço com crítica de que se trata de "mais do mesmo". Ou seja, de que estaria pegando carona na atual onda de comédias para grandes públicos. Um suposto filão que Wilker afirma não existir.

“É outro surto perigoso”, rebate o ator. Para ele é um engano vender a ideia de que a comédia para grandes públicos é o gênero dominante do cinema brasileiro. “Não dá pra detectar isso a partir de uma amostra tão pequena”, declara.

“Porque duas ou três deram certo, agora é só comedia?”. Ao questionamento ele relembra uma lista de grandes sucessos que não se enquadram nesse gênero, como “Carandiru”, “Dois Filhos de Francisco”, “Tropa de Elite” e “Volta ao Lar”.

Formato híbrido
E quanto à crítica ao “Giovanni Improtta”, Wilker, claro, defende sua cria. Ele argumenta que a intenção não era de que fosse engraçado. “Essa era minha última pretensão”, diz. A ideia, de acordo com Wilker, foi contar a história de uma figura típica do Rio, que procura ascender na vida, mas não consegue. “É uma crítica a esse cara e a esse universo do jogo de bicho, porém, não sisuda, com ironia”.

Depois de enfrentar dilemas sobre como contar a história, durante a filmagem, Wilker se deu conta de que havia feito mais do que isso, de que tinha construído uma síntese de personagens brasileiros. Alguns que ele mesmo fez, como Roque Santeiro e o Homem da Capa Preta. “Nesse sentido, ‘mais do mesmo’ é um elogio”, brinca.

TRAILER DO FILME "GIOVANNI IMPROTTA"

Para o produtor do filme, o diretor Cacá Diegues, “Giovanni Improtta”, ao assumir um formato híbrido, com elementos do popular e autoral, inaugura uma nova fase, que ele acredita ser fundamental para as produções nacionais. “O puro não tem futuro, esse modelo mais diverso, que mistura diversos gêneros, é que vai predominar”, defende.

Sobre a experiência de dirigir, Wilker diz que gostou, apesar da loucura de trabalhar atrás e na frente das câmeras. “O melhor é não ter ninguém para mandar em mim”. Embora tenha se questionado se seria entendido pelo público, diz que gostou de exercício de experimentar o próprio senso de humor, presente em muitas piadas e referências escondidas ao longo do filme.

Para falar do relacionamento com os atores, a maior parte composta por amigos de longa data, como Milton Gonçalves e Othon Bastos, Wilker saca argumentos de técnico de futebol, esporte pelo qual se declara apaixonado – e que é tema da edição deste ano do Cine PE. “O importante é ter um bom time, depois é deixa-lo jogar seu melhor futebol”.

Neste sábado (27), o festival apresenta o documentário “Orgulho de Ser Brasileiro”, de Adalberto Piotto. Depois é a vez de outra comedia, “Vendo ou Alugo”, dirigida por Betse de Paula, com Marieta Severo, homenageada da noite, que receberá o troféu “Calunga de Ouro”. Também no elenco Marcos Palmeira, Nathália Timberg, Silvia Buarque, entre outros.

* O jornalista viajou a convite da organização do Cine PE