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Wagner Moura diz que criou personagem em "Elysium" como brasileiro

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

09/09/2013 14h04

No dia 20, chega aos cinemas brasileiros "Elysium", filme dirigido pelo sul-africano Neill Blomkamp. Com ar pós-apocalíptico, o longa protagonizado por Matt Damon mostra uma Terra devastada e abandonada pelos mais ricos - que buscaram refúgio no local que dá nome à produção.

Também presentes na ficção científica, Wagner Moura e Alice Braga compareceram à apresentação do longa em São Paulo, nesta segunda-feira (9), e disseram não acreditar em um futuro tão pessimista quanto o retratado. “Esse filme é uma metáfora, uma tentativa de reproduzir um receio e também uma realidade que está espalhada em alguns lugares. No Brasil mesmo nós vemos de perto o problema da desigualdade social. Mas não vejo um futuro tão terrível assim”, afirmou Wagner.

A atriz destacou que o diretor, conhecido por seu trabalho em "Distrito 9", quis levantar uma discussão sobre o tema. “O Neill cria uma história para cutucar, ele é muito politizado. Também sou otimista, mas acho que nós precisamos mudar para que haja uma transformação no mundo”, completou

Em seu primeiro longa internacional, Wagner foi sincero e objetivo ao contar como criou seu personagem, Spider, uma mistura de chefe do crime e revolucionário de Los Angeles que tenta levar imigrantes ilegais para Elysium. “Para mim, ele era brasileiro. Era o que eu sabia fazer. Não ia falar inglês com sotaque mexicano. Na minha cabeça, ele era o brasileiro que chegava e mandava em todo mundo”, disse.

Para dar vida ao personagem, o ator pediu para ter tatuada em seu braço a bandeira do Brasil, o que rendeu um incidente engraçado no set de filmagens. “Um dia, o Matt Damon chegou ao estúdio e perguntou por que ele tinha um hambúrguer tatuado no braço”, contou Alice, aos risos. "Aí eu falei 'cara, essa é a bandeira do meu país'", completou Wagner, também gargalhando.

Já Alice disse que compôs sua personagem, Frey, imaginando que ela viesse de algum lugar entre a fronteira dos Estados Unidos e do México. "Para mim, ela era dessa fronteira. Até porque eles estão em Los Angeles, que é perto. E no meio do processo o Neill quis jogar alguns termos em espanhol nas falas dela".

Além dos dois brasileiros, o elenco conta ainda com o mexicano Diego Luna e o sul-africano Sharlto Copley. E a opção de Neill por atores de países emergentes não foi à toa, para Wagner. "Trazer atores dos países de terceiro mundo era uma vantagem para o diretor. Ele queria trazer pessoas de lugares em que a ideia de exclusão fizesse sentido. Isso tem muita importância para o filme".

Desafio de filmar em inglês
Estreante nas filmagens em inglês, Wagner afirmou que não é nada fácil atuar no idioma estrangeiro. “Não sou um falante da língua inglesa. Falo, mas nunca morei fora. Então demorei a me acostumar. E ouvi uma frase do Javier Bardem [ator de origem espanhola] que gostei muito. Ele disse que filmar em inglês é ter um escritório na cabeça, com muita gente falando. E foi isso que senti mesmo”, afirmou ele, que só fala português em cena em um momento no qual seu personagem solta dois palavrões.

Veja trailer legendado de "Elysium"

No processo de fazer o filme, porém, não há diferenças entre produções nacionais e internacionais, segundo o artista. "A filmagem é igual, A única diferença é a quantidade de dinheiro. E o 'Elysium' é um filme feito com muito dinheiro, o que influencia em tudo, até na comida, que por sinal era maravilhosa", brincou Wagner.

O ator revelou que ficou empolgado logo ao receber a oferta para estar na produção. "'Elysium' é muito legal e o personagem é ótimo. Adoro filmes de longo alcance e que tenham algo para dizer. Fazer os opostos, o filme cabeça independente e o blockbuster só de ação, é muito mais fácil do que fazer algo que traga o público e proponha uma discussão".

Wagner revelou que tem "possibilidades" de fazer mais trabalhos internacionais, mas nada está definido ainda. "Eu sou muito chato. Para eu fazer algo, tenho que achar muito legal, porque não gosto de ficar longe de casa", contou. Entre os projetos que tem em vista, está a cinebiografia "Fellini Black And White", sobre o cineasta italiano Federico Fellini, que seria dirigida por Henry Bromell e foi adiada após a morte do diretor, em março deste ano. Ele ainda terá a agenda em 2015 tomada por sua estreia na direção, com um filme sobre o guerrilheiro Carlos Marighella.

Ao lado de Alice pela segunda vez em um longa – o primeiro foi “Cidade Baixa” (2005) -, Wagner buscou apoio na amiga, para lidar com a distância de casa. “Fomos para Vancouver filmar e eu não conhecia ninguém. Estava muito tempo longe de casa e se a Alice não estivesse lá, ia ser f... Somos muito amigos e a amo muito”, declarou o ator, acrescentando que recebeu os cuidados da amiga quando pegou uma pneumonia no meio das filmagens. "Eu fiz até massa para ele", completou a atriz.